Record (Portugal)

Os miúdos do Seixal

A GERAÇÃO QUE AGORA ESTÁ A CHEGAR À PRIMEIRA EQUIPA PERMITE AO BENFICA TER MENOS NECESSIDAD­E DE IR AO MERCADO PARA ENTRAR NO CICLO ‘COMPRAR-VALORIZAR-VENDER’

- Sérgio Krithinas Editor

A QUESTÃO QUE SE COLOCA É: ATÉ QUANDO QUERERÃO ESTES JOVENS FICAR EM PORTUGAL?

A presença de seis jogadores da formação, todos sub-23, no onze que o Benfica apresentou em casa do Galatasara­y é um facto notável e com um enorme significad­o. Muito por mérito de Bruno Lage – porque mais do que lançar miúdos o importante é saber lançá-los com contexto e potenciá-los –, a verdade é que o clube da Luz deu um importante sinal, tanto para o futuro como para o presente. Foi com um onze recheado de miúdos inexperien­tes que o Benfica venceu em casa do campeão turco, num jogo que controlou quase sempre, o que por si só é uma enorme prova de qualidade daqueles jogadores.

É verdade que o caminho para

o estrelato no futebol é muitas vezes sinuoso e recheado de armadilhas, pelo que ninguém pode garantir que estes jovens ‘made in Seixal’ serão, de facto, futebolist­as de topo. Mas dizem as leis das probabilid­ades que uma boa parte deles, talvez a maioria, conseguirá lá chegar. O que permite antecipar uma enorme vantagem do Benfica em relação aos rivais diretos nos próximos anos. Os encarnados têm disponívei­s vários jogadores de qualidade, todos jovens, de salários baixos, atados com contratos longos e cláusulas de rescisão estratos- féricas. O que faz com que possam enfrentar as próximas temporadas com menos necessidad­e de atacar o mercado de transferên­cias, podendo até gastar mais dinheiro em uma ou outra contrataçã­o mais específica e cirúrgica. Não há nada parecido nos plantéis de FC Porto ou Sporting, que pre- cisarão de manter o ciclo de comprar (correndo riscos), valorizar e depois vender para voltar a comprar.

O Benfica parece, por isto,

mais bem posicionad­o para atacar os próximos anos do futebol em Portugal – embora não seja garantia de nada, deixa a equipa mais perto de ganhar mais vezes do que os outros. Quanto à Europa, as coisas são bem diferentes. Ninguém chega ao topo do futebol do continente em dois ou três anos; para isso, e os exemplos estão à vista de todos, é preciso encontrar um núcleo duro de jogadores e fazer a equipa ir crescendo à volta deles. Se fores o Real Madrid, o Barcelona, Manchester United ou a Juventus, consegues, porque és o objetivo máximo da carreira de qualquer futebolist­a; se fores uma equipa portuguesa, seja ela qual for, já tens um problema: como manténs durante muitos anos motivado um jogador cuja maior motivação é sair para uma equipa de topo?

Este é o maior desafio que o

Benfica enfrenta com esta fornada de talento que está a sair do Seixal. Pegando apenas naqueles que se destaquem na primeira equipa, a pergunta que se deve fazer é: até quando estarão estes miúdos (influencia­dos por familiares, empresário­s, amigos e tudo o mais) dispostos a ficar em Portugal? A resposta a esta pergunta será também a resposta ao cresciment­o que o Benfica pode ter nos próximos anos.

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