Os miúdos do Seixal
A GERAÇÃO QUE AGORA ESTÁ A CHEGAR À PRIMEIRA EQUIPA PERMITE AO BENFICA TER MENOS NECESSIDADE DE IR AO MERCADO PARA ENTRAR NO CICLO ‘COMPRAR-VALORIZAR-VENDER’
A QUESTÃO QUE SE COLOCA É: ATÉ QUANDO QUERERÃO ESTES JOVENS FICAR EM PORTUGAL?
A presença de seis jogadores da formação, todos sub-23, no onze que o Benfica apresentou em casa do Galatasaray é um facto notável e com um enorme significado. Muito por mérito de Bruno Lage – porque mais do que lançar miúdos o importante é saber lançá-los com contexto e potenciá-los –, a verdade é que o clube da Luz deu um importante sinal, tanto para o futuro como para o presente. Foi com um onze recheado de miúdos inexperientes que o Benfica venceu em casa do campeão turco, num jogo que controlou quase sempre, o que por si só é uma enorme prova de qualidade daqueles jogadores.
É verdade que o caminho para
o estrelato no futebol é muitas vezes sinuoso e recheado de armadilhas, pelo que ninguém pode garantir que estes jovens ‘made in Seixal’ serão, de facto, futebolistas de topo. Mas dizem as leis das probabilidades que uma boa parte deles, talvez a maioria, conseguirá lá chegar. O que permite antecipar uma enorme vantagem do Benfica em relação aos rivais diretos nos próximos anos. Os encarnados têm disponíveis vários jogadores de qualidade, todos jovens, de salários baixos, atados com contratos longos e cláusulas de rescisão estratos- féricas. O que faz com que possam enfrentar as próximas temporadas com menos necessidade de atacar o mercado de transferências, podendo até gastar mais dinheiro em uma ou outra contratação mais específica e cirúrgica. Não há nada parecido nos plantéis de FC Porto ou Sporting, que pre- cisarão de manter o ciclo de comprar (correndo riscos), valorizar e depois vender para voltar a comprar.
O Benfica parece, por isto,
mais bem posicionado para atacar os próximos anos do futebol em Portugal – embora não seja garantia de nada, deixa a equipa mais perto de ganhar mais vezes do que os outros. Quanto à Europa, as coisas são bem diferentes. Ninguém chega ao topo do futebol do continente em dois ou três anos; para isso, e os exemplos estão à vista de todos, é preciso encontrar um núcleo duro de jogadores e fazer a equipa ir crescendo à volta deles. Se fores o Real Madrid, o Barcelona, Manchester United ou a Juventus, consegues, porque és o objetivo máximo da carreira de qualquer futebolista; se fores uma equipa portuguesa, seja ela qual for, já tens um problema: como manténs durante muitos anos motivado um jogador cuja maior motivação é sair para uma equipa de topo?
Este é o maior desafio que o
Benfica enfrenta com esta fornada de talento que está a sair do Seixal. Pegando apenas naqueles que se destaquem na primeira equipa, a pergunta que se deve fazer é: até quando estarão estes miúdos (influenciados por familiares, empresários, amigos e tudo o mais) dispostos a ficar em Portugal? A resposta a esta pergunta será também a resposta ao crescimento que o Benfica pode ter nos próximos anos.