CLÁUDIO OE
ANTIGO AVANÇADO NÃO ESQUECE BRILHARETE Motivação máxima e pressão mínima deram triunfo que rendeu 100 contos ao plantel
Naquele dia de Carnaval especial, a direção do Torreense decidiu convocar todo o plantel para a visita ao FC Porto, um prémio para os jogadores poderem viver uma experiência única. O Estádio das Antas registou uma das piores assistências da época [8 mil espectadores], mas isso nada mudou na motivação dos jogadores visitantes, como recorda Cláudio Oeiras.
“O estádio não estava cheio. Para os adeptos do FC Porto era só mais um jogo contra uma equipa da 2ª Divisão. Se calhar pensavam que iam ganhar por cinco ou seis. Só que o tempo ia passando, o FC Porto não conseguia marcar. Até que, ao minuto 86, conseguimos matar o jogo. Foi o golo mais importante da minha carreira contra um clube fortíssimo que ganhava tudo em Portugal. Depois, o árbitro deu quatro minutos de compensação. Aquilo parecia uma eternidade! Mas quando apitou foi uma festa enorme. O Reinaldo Teles [vice-presidente dos dragões] foi ao nosso balneário RECEÇÃO EUFÓRICA
dar-nos os parabéns”, recorda o antigo avançado, hoje com 41 anos, revelando ainda a ‘motivação extra’ proporcionada pela direção do Torreense aos seus jogadores. “Uns dias antes do jogo, veio cá o diretor dizer que se ganhássemos no Porto havia um prémio de 100 contos para toda a gente. Ficou toda a gente do tipo ‘100 contos? Está bem! Alguma vez vamos conseguir ganhar!’. No dia a seguir estava lá o dinheiro”, recorda o herói daquela tarde de fevereiro a Record, entre sorrisos.
“Levem o ‘mouro’ para baixo”
O FC Porto chegou ao jogo com o Torreense na liderança do campeonato, mas com o Boavista a re- duzir a diferença para apenas um ponto, depois de uma derrota dos dragões em Guimarães. No final da época, o atual selecionador nacional acabaria por ficar conhecido como o Engenheiro do Penta, mas naquele dia, após a inesperada eliminação da Taça, não se livrou da forte contestação dos adeptos portistas, ao ponto de ser convidado a seguir viagem no autocarro do Torreense, como lembra Luís Brandão, o então treinador do emblema de Torres Vedras. “Contribuí, de certa forma, para o penta do FC Porto. A partir desse jogo eles acertaram de tal modo que não perderam mais jogo nenhum. Já havia alguma contestação ao Fernando Santos. Vimos isso quando estávamos a ir para o autocarro. Estavam lá muitos adeptos a contestar e a dizer: ‘Levem o mouro para baixo’. Mas ele continuou e o FC Porto acabou por ganhar o campeonato”, acrescenta o técnico, que nem queria acreditar quando o árbitro Bruno Paixão apitou para o final da partida. “Depois da vitória, fiquei um bocado adormecido. Toda a gente fez uma grande festa no campo, mas eu fiquei assim um bocadinho longe. Não estava a acreditar que aquilo tinha acontecido. Toda a gente dizia que íamos ser massacrados e que íamos sair de lá desmoralizados. Mas eu sabia que havia uma esperança, ainda que reduzida. Nestes jogos não é preciso motivação extra”, finaliza Luís Brandão, que deixou os bancos em 2002. *
“SE CALHAR PENSAVAM QUE IAM GANHAR POR CINCO OU SEIS”, LEMBRA O HERÓI DAQUELE DIA. “FOI UMA FESTA ENORME”, DIZ