Bruno – o regresso
O LIVRO DO ANTIGO PRESIDENTE DO SPORTING É UM AJUSTE DE CONTAS, UM AFAGO NO EGO E UM PANFLETO DE CAMPANHA
Sem filtro’. A julgar pelo título do livro, até parece um exercício humorístico. Se há alguém que sempre falou sem filtro, mormente no Facebook, foi Bruno de Carvalho. O livro tem mais filtro do que os seus famosos ‘posts’. O texto é ao mesmo tempo um ajuste de contas com quem se lhe opôs e um exercício de autoglorificação. Bruno de Carvalho atira-se a Jorge Jesus, que o chantageou para renovar, a Octávio Machado, “um elemento altamente perturbador”, ou José Maria Ricciardi, que se ajoelhou à sua frente a pedir perdão.
Tece loas aos seus sucessos,
como conquistou “mais de 450 títulos nacionais e regionais e sete títulos europeus, em 33 modalidades”, como “2018 foi mesmo o ano com mais títulos nacionais e europeus da história de um clube em Portugal” ou como nunca teve um resultado negativo na SAD. Faltou-lhe o que mais conta: ser campeão nacional. E, acima de tudo, educação e bom senso.
A obra tem um cariz autobio
gráfico: de facto está lá o Bruno de Carvalho que conhecemos nos últimos anos, alguém com um ego do tamanho de um estádio de futebol, mas que ainda assim consegue responder a Jorge Jesus nestes termos: “[o antigo treinador do Sporting] tinha de encontrar uma editora que escrevesse um livro só com uma palavra: ‘eu’”.
Claro que a promoção do livro
implica pré-publicações e en- trevistas em jornais e televisões. Um quase regresso aos tempos áureos da sua exposição mediática.
O chato para Frederico Varandas é que este ressurgimento acontece numa altura em que o Sporting está em quarto lugar no campeonato, a nove pontos do líder, e as exibições não convencem. A de domingo, contra o Sp. Braga, deu algum oxigénio, mas não chega. O livro cai que nem mel na sopa dos saudosistas do antigo regime.
O que se passou durante o período final da presidência de Bruno de Carvalho foi tão grave, que o seu regresso parece impensável. Só que este livro, que pode ser para sobreviver, como diz Jorge Jesus, ou até para deixar uma versão sua para a posteridade, é também um panfleto de campanha de alguém que quer voltar. A fragilidade desta ou de outra presidência será a força da sua recandidatura.
Aquilo que os sportinguistas se devem questionar, enquanto a memória está fresca, é quanto da atual situação do clube se deve à herança do anterior presidente. Bruno de Carvalho desperdiçou a reestruturação financeira numa irresponsável e ineficaz inflação brutal dos custos com salários, que resultou em prejuízos elevados no último ano fiscal. E despedaçou uma equipa que está ainda à procura de se reencontrar.
ESTÁ LÁ O BRUNO QUE CONHECEMOS: ALGUÉM COM UM EGO DO TAMANHO DE UM ESTÁDIO DE FUTEBOL