Um poema em campo
Em versão liga portuguesa, o Benfica de Bruno Lage não surpreendeu, tendo como principal nuance a continuidade de Ferro no lugar do capitão Jardel. Para a dinâmica da equipa, não é despicienda esta alteração. Ferro é o central tecnicamente mais evoluído do plantel benfiquista; a isto junta-se uma extraordinária leitura de frente para o jogo que dá outras opções às limitações com bola de Rúben Dias, arriscando com segurança no jogo interior logo a partir da primeira fase de construção, o que era inaudito no Benfica pré-Lage.
Mas se este é um pormenor, de maior importância e que merece natural destaque é o que fez a diferença no jogo. Com uma defesa de três centrais e sem sequer um único ‘seis’ na proteção frontal à defesa, o Aves quase entrou a perder [1], vítima de uma interpretação demasiado literal por parte dos centrais, da preocupação evidente de Augusto Inácio em manter a zona frontal da baliza bem fechada, face às combinações de ataque dos médios do Benfica, bem apoiados pelas penetrações interiores, quer de Grimaldo, quer de André Almeida. Como durante praticamente todo o jogo, o ataque construiu-se pela direita para ser finalizado sobre a esquerda. Muito inteligentes, os avançados do Benfica souberam explorar muito bem o espaço entre os laterais e os centrais do Aves [1], demonstrando que no ataque o mais importan- te é saber ler onde está o espaço livre. Fascinante a forma como Pizzi – a médio-direito apenas no papel – assume a batuta de movimentos em constantes trocas de posição com João Félix [2], que com o apoio das subidas de André Almeida criam desequilíbrios sobre a direita, atraindo adversários para as necessárias coberturas, que resultam na abertura de espaço à esquerda, seguindo-se rápidas variações do centro de jogo para o excelente jogo posicional de Seferovic e para as penetrantes incursões de Grimaldo e Rafa à esquerda. Numa construção mais posicional [3], estas variações multiplicam linhas de passe possíveis para Gabriel e Samaris, libertam de marcação a genialidade de João Félix e colocam Pizzi na posição 10, onde consegue desequilibrar de forma mais assertiva por via da sua excecional leitura de jogo. Salta à evidência a capacidade de um treinador que sabe tirar o melhor dos jogadores que tem à sua disposição, mas fica também claro que sem a inteligência e a capacidade técnica destes jogadores, este Benfica não conseguiria derrubar assim.
MÉDIO ASSUME A BATUTA EM CONSTANTES TROCAS DE POSIÇÃO COM O JOVEM, CRIANDO DESEQUILÍBRIOS