Record (Portugal)

Coragem de Varandas indispensá­vel ao Sporting

- * Texto escrito comaantiga­ortografia

O PRESIDENTE DOS ‘LEÕES’ NÃO TEVE MEDO E DENUNCIOU CERTOS ‘ESQUEMAS’ E O PAPEL (NEGATIVO) DAS CLAQUES

Menos de 24 horas depois da eliminação do Sporting na Liga Europa, Frederico Varandas falou do ‘estado da nação sportingui­sta’, numa intervençã­o pré-agendada e que gerou alguma expectativ­a, depois de o ex-presidente ter realizado um conjunto de consideraç­ões que também o visaram.

Háatese de que Frederico Varan

das, até agora, se havia escondido atrás do biombo da sua fraca apetência para comunicar. É preciso não esquecer que o seu antecessor era o exemplo, até então não observado, do excesso de comunicaçã­o. Tudo servia de pretexto para comunicar. Pelas vias mais clássicas ou através das redes sociais. Um ritmo alucinante, uma obsessão, com consequênc­ias desastrosa­s.

E hoje hádois Brunos que dialo

gamumcomo outro, como se houvesse (e se calhar há) duas personalid­ades antagónica­s dentro da mesma pessoa, que a fazem contraditó­ria, ambivalent­e, dissimulad­a, ora em estado de autocrític­a, às vezes pungente, capaz de poder fazer derramar, eu sei lá, um mar de lágrimas entre os seus ‘fiéis’, que são poucos mas ruidosos (para pareceram mais do que são, efectivame­nte), ora em estado de brutalidad­e dialéctica, atacando tudo e todos, para defender, afinal, o seu ‘outro’ – o das purezas e canduras. E disso tivemos, ontem, mais um exemplo, com o ‘animal feroz’ a tentar demonstrar, na resposta a Varandas, que é absolutame­nte inofensivo e não provocou qualquer dano ao Sporting. O Bruno dos ‘dentes de leite’, todavia, a pingar sangue – o Bruno dos ‘dentes de sangue’, vidrado na proporção das pequenas-grandes vinganças.

Aintervenç­ão de Frederico Va

randas, com base nalgumas informaçõe­s que o relatório final da auditoria irá demonstrar, começou por revelar que o Sporting (de BdC) pagou 1,7 M€ em 3 anos a uma sociedade de advogados (MGRA) por trabalhos relacionad­os com assuntos, aconselham­ento e contactos da presidênci­a. Em três anos gastou-se mais, neste tipo de serviços, do que em 16?!!! Àquela empresa estavam associados o ex-sogro de Bruno de Carvalho e o ex-vogal da Direcção, Alexandre Godinho, um dos maiores defensores e apoiantes do regime brunista, quando este ameaçava colapsar. Trata-se, indiscutiv­elmente, de um tema (entre outros) que interessa aprofundar para se perceber definitiva­mente esta permanente representa­ção de um lobo que adora transforma­r-se numa inofensiva ovelha – o lobo que bale –, porque esse aprofundam­ento ajudará a compreende­r a dimensão de outras suspeições que recaem sobre o ex-presidente do Sporting. Aliás, ainda está por explicar como é fácil “roubar um clube de futebol”. Se calhar, é.

Todaagente entende aafirmação de Frederico Varandas segundo a qual o ataque à Academia de Alcochete constituiu “o maior rombo financeiro e desportivo da história do clube” e toda a gente sabe quem gerou as condições para que o Sporting visse rebentar dentro das suas próprias instalaçõe­s um dos barris de pólvora mais indignos da história do futebol. Parece fácil restaurar todos os estragos (e as consequênc­ias financeira­s, cujas contas finais serão apuradas a seu tempo), mas não é. O Sporting precisa de tempo para sarar feridas tão profundas. E isso só poderá ser feito se os sócios do Sporting perceberem o que aconteceu ao clube e quem o atirou para uma situação tão delicada. E alcançarem negócios como os que foram realizados com o Batuque FC. O Sporting tinha direito de preferênci­a sobre sete jogadores daquele clube cabo-verdiano? Que jogadores? Como se justificam os 330 mil euros pagos nessas operações?

Ontem, Frederico Varandas – sem ruído mas com coragem – colocou o dedo em várias feridas. Uma delas foi a das claques. Na verdade, é preciso ter coragem para mexer no vespeiro. Naquilo que ele representa de subversão de todos os valores que devem estar associados ao desporto e às sociedades. Varandas relembrou que fez parte da Juve Leo quando não (lhes) era dado nada em troca. As claques, entretanto, por responsabi­lidade das direcções, passaram a ser espaços de negócio e de poder. E o clube ficou e estava refém das claques. Dos seus caprichos e das suas exigências. Desmantela­r esse processo não é fácil. Mas é um imperativo de consciênci­a para quem quer fazer crescer o clube. E, para isso, como diz Varandas, as claques não podem estar acima dos sócios que pagam as suas quotas e bilhetes e que se devem enquadrar num regime de normalidad­e.

Emsuma: Frederico Varandas vestiu a sua ‘bata branca’ para, em ambiente de ‘guerra’, fazer passar a mensagem de que os mortos são para enterrar e os feridos são para tratar e recuperar. O leão tem queimadura­s de terceiro grau, de regeneraçã­o muito difícil. Há quem não queira que o Sporting saia dos ‘cuidados intensivos’. O trabalho na Academia é para anos. Pedir resultados imediatos é uma utopia e pode ser um suicídio. O Sporting precisa de recuperar o seu caminho, com responsabi­lidade e exigência internas, dia após dia, e afastar desse caminho quem lhe fez ou faz mal. Muito mal - e até com algum gozo-sadismo.

 ??  ?? BISTURI AFIADO. O presidente-médico Frederico Varandas tem em mãos a maior e mais delicada ‘cirurgia’ da sua vida. Ontem, utilizou um ‘bisturi’ bem afiado…
BISTURI AFIADO. O presidente-médico Frederico Varandas tem em mãos a maior e mais delicada ‘cirurgia’ da sua vida. Ontem, utilizou um ‘bisturi’ bem afiado…

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