Record (Portugal)

“A minha irmã morreu com um tiro na cabeça”

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Quais as suas origens?

SM – A minha mãe é do Pinhal Novo e o meu pai é cabo-verdiano, da cidade da Praia. A 4 de fevereiro de 1977 nasci no Hospital de São Bernardo, em Setúbal.

Quando nasceu veio logo morar para o Bairro da Bela Vista? SM – Não. Fui morar para o Pinhal Novo e depois ainda morei em Palmela. Vim morar para a Bela Vista quando tinha sete anos.

Tem irmãos?

SM – Tenho uma irmã mais velha, ela não gosta que o diga mas é verdade [risos], e três irmãos mais novos, com 35, 31 e 29 anos.

Os seus pais acompanhav­amnos aos treinos n’Os Pelezinhos ou no Vitóriaqua­ndo eracriança? SM – Os meus pais nunca me levaram aos treinos. A maioria das vezes ia sozinho, outras saía da escola e apanhava boleia do pai de algum colega..

Jogou sempre no meio-campo ou chegou a atuar noutras posições?

SM – Não. Era extremo-direito e acho que até era bom. Era magrinho, levezinho, muito rápido e conseguia até fazer uns golos. À medida que os anos foram passando começaram a puxar-me para o meio. Fui 10, fui 8 e depois, nos juniores, alguém se lembrou de me pôr a seis, posição em que fiz grande parte da minha carreira.

Quando era criança simpatizav­a com que clube?

SM – Já torcia pelo Vitória. Era o clube da terra e ia ver os jogos com os meus amigos. Chegávamos ao Estádio do Bonfim e pedíamos aos sócios para entrarmos com eles.

Quem eram os jogadores que mais admirava na altura?

SM – Há vários jogadores que tenho como referência­s, mas nunca tive ídolos.

Quando fez o seu primeiro contrato profission­al e qual o seu ordenado, lembra-se?

SM – Foi aos 18 anos, na minha última época de júnior. Podia ter jogado mais um ano no escalão, mas foi o ano em que o Vitória desceu de divisão e o Quinito assumiu a equipa. Lembro-me de que ganhava muito pouco: 120 contos [cerca de 600 euros]. Tínhamos prémios de vitória e ganhava muito mais em prémios do que no ordenado. Era sinal de que ganhávamos muitas vezes [risos]. Subimos de divisão.

“A ELISABETE TEVE UMA DISCUSSÃO COM O MARIDO E ELE DEU-LHE UM TIRO. ESTEVE PRESO MEIA DÚZIA DE ANOS”

O que fez com o primeiro vencimento? Ajudava em casa?

SM – Não sentia a necessidad­e de ajudar, mas tinha uma irmã mais velha que tinha falecido e deixou três filhos. Nessa altura, quando tinha 17 ou 18 anos, ajudava mais os meus sobrinhos do que propriamen­te em casa. O dinheiro que ganhava gastava como bem entendia.

Como morreu a sua irmã?

SM – A Elisabete tinha 24 anos de idade e morreu com um tiro na cabeça no Pinhal Novo. Nunca quis saber ao certo o que aconteceu. Teve uma discussão com o marido e ele deu-lhe um tiro. Não foi fácil [emociona-se e responde com voz embargada].

O que aconteceu ao ex-marido da sua irmã?

SM – Esteve preso meia dúzia de anos e depois saiu em liberdade. Anda por aí...

Teve de ser uma espécie de pai para os seus sobrinhos?

SM – Não. Prefiro pensar que fui uma espécie de bom tio. Felizmente, a Filipa, o Márcio e a Sofia estão bem de saúde que é o mais importante. *

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