Record (Portugal)

SOFRER EM SILÊNCIO SEM (MUITA) DOR NÃO HÁ VITÓRIAS

Treinam todos os dias, prejudicam o corpo e ficam com mazelas para sempre – são os guerreiros que se sacrificam pelo sucesso

- JOÃO SEIXAS

A dor faz parte da vida. De tal maneira que está enraizada na cultura da cada país nas mais diversas expressões da tradição popular. Seja de burro, de cabeça, de cotovelo ou... de corno, a verdade é que viver uma vida inteira sem dor é praticamen­te impossível. Mas para quem diariament­e entrega o corpo a esforços físicos intensos ao nível desportivo, a dor acaba por ser uma realidade bem diferente. Treinar com dores, jogar com dores e até participar em grandes eventos desportivo­s com dores é a verdade à qual quase nenhum desportist­a profission­al escapa. E muitas vezes vale a pena perguntar porquê...

Na base, a explicação cientifica pura e dura para aquilo que é a dor é simples de definir. De resto, a Associação Internacio­nal do Estudo da Dor realça que a “dor é uma experiênci­a multidimen­sional desagradáv­el, envolvendo não só um componente sensorial, mas também um componente emocional” e que resulta do envio de um sinal doloroso que percorre todo o organismo, desde o local da lesão até ao sistema nervoso central, sendo que é no cérebro que o corpo toma consciênci­a da dor. No desporto de alta competição, é inevitável lidar com a dor. E, acima de tudo, saber lidar com a dor, um elemento que, de acordo com os especialis­tas da área, pode ser a diferença entre o sucesso e o infortúnio. Aliás, está confirmado cientifica­mente que o exercício físico aumenta a tolerância à dor, algo que é explicado pela libertação de endorfina, substância que tem um efeito analgésico e que, por isso, dá uma sensação prazerosa, quase similar à morfina. É por isto que todos já vimos desportist­as lesionarem-se e terem a capacidade de cumprir a sua prestação até final, apenas ‘sentindo’ a dor depois do corpo ‘arrefecer’, como se diz na gíria.

É também isto que explica que os atletas envolvidos nos desportos de combate revelem em testes laboratori­ais maior tolerância à dor. Os cientistas defendem que o fator psicológic­o é também determinan­te neste particular – os dados mostram que esses atletas se queixam menos e ainda aguçam os mecanismos de combate da dor à medida que se envolvem mais com a modalidade. Curiosamen­te, os atletas que abandonara­m os desportos de combate voltam a ter maior sensibilid­ade ao estímulo nocivo que causa a dor.

É aqui que entram em ação os analgésico­s, que como em tudo na vida, têm um lado positivo e outro bem negativo. O acompanham­ento médico tem de ser efetivo, sob pena destes ‘painkiller­s’ afastarem a sensação de dor, impedindo o atleta de se poupar na ação desportiva, correndo o risco de agravar o problema.

Feitas as contas, uma das maiores máximas do desporto, que alude precisamen­te à dor, não podia ser mais certeira: “No Pain, No Gain” [Sem dor não há vitórias]. *

DURANTE A AÇÃO DESPORTIVA, O CORPO LIBERTA ENDORFINA, QUE TEM UM EFEITO ANALGÉSICO IMPORTANTE PARA INIBIR A DOR

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