Vergílio Ferreira: olhar sobre a ética
Sabe- se, consciente e convictamente, que o desporto é um fenómeno marcante, distinto e inevitável – a sua relevância e atualidade são indiscutíveis. O seu papel interpelante e apelativo em amplitude incomensurável, provoca, estimula e espicaça interesse em todas as áreas do conhecimento. O espírito crítico que permanentemente invadia o sublime escritor VF, bem como a sua capacidade de pensar naquilo em que habitualmente não se pensa, permitiam-lhe uma análise mais profunda do fenómeno desportivo, nomeadamente o futebol: um episódio funesto e tema de reflexão por parte de VF, foi a tragédia ocorrida no estádio do Heysel Park de Bruxelas, dia 29 de maio de 1985, aquando da final da Taça dos Campeões Europeus, que opunha o Liverpool e a Juventus. Fruto do hooliganismo, esta tragédia causou 39 mortos e é das mais marcantes, relacionada com um evento desportivo. “Sossegados os ânimos e recolhidos os cadáveres, iniciou-se a partida” (CC V, 447), contudo esta nunca se devia ter realizado, pois nenhum troféu vale a vida de um ser humano – houve sim o “regozijo da vitória” (CC V, 447), sem mortos a contabilizar, pois os festejos exuberantes exteriorizaram-se pelo facto de os jogadores alegadamente não estarem a par da dimensão da tragédia. VF bem tentou encontrar uma “conclusão a extrair a tudo isto. Não a sei” (CC V, 447).
Vejamos: o ‘adversariu’, “que está contra”, deverá, imperiosamente, passar a ser ‘adversum’, “virado para mim” (serde-relação, (intersubjetividade), num jogo de corresponsabilidade (Antunes de Sousa).
Continuemos a lutar por um desporto incorruptível, imperecível, viçoso e imarcescível onde reine a cooperação, cordialidade e respeito, iniciativa e participação, entreajuda, solidariedade, empenho, espírito desportivo e fair play, compromisso e responsabilidade, cidadania e espírito democrático, justiça e honestidade. É este o desporto que me move!