Sérgio só acertou no onze do Benfica
O TREINADOR DO FC PORTO TEVE UM TIRO CERTEIRO NA VÉSPERA, AO ADIVINHAR AS ESCOLHAS DE BRUNO LAGE. MAS NO QUE À EQUIPA TITULAR DOS DRAGÕES DIZ RESPEITO, É QUE JÁ NÃO FOI TÃO FELIZ
Há um indiscutível mérito do Benfica, e mais concretamente de Bruno Lage, na vitória ontem alcançada no Dragão, que permite aos encarnados assumirem a liderança do campeonato. O jovem treinador das águias está a fazer um trabalho extraordinário e o triunfo diante do FC Porto é também o materializar desta espécie de milagre operado na Luz no início de 2019.
O mérito do Benfica e de Bruno Lage no jogo de ontem contrasta também com o demérito de Sérgio Conceição, o principal responsável pela comprometedora derrota averbada pelos portistas. O treinador dos azuis e brancos, por muito conhecimento de causa que tivesse (avaliação do desempenho nos treinos e dados sobre o estado físico dos jogadores), foi infeliz na escolha do onze. Atribuir a titularidade no lado direito da defesa a Wilson Manafá, antigo médio-ala-esquerdo do Portimonense, e a Adrián López , na frente de ataque, num jogo desta importância não foi, de facto, boa ideia.
O primeiro caso entronca num outro: ou Éder Militão acabou o castigo e assume o lugar, ou continua a pagar pela saída noturna da passada semana e não figura na lista dos convocados. Ter o internacional brasileiro no banco e Manafá em campo é que não faz qualquer sentido.
No segundo caso, é o próprio Sérgio Conceição a assumir o erro, ao tirar Adrián López e a colocar Soares em campo para a meia hora final do encontro. O espanhol até marcou um golo, é certo, mas não foi, de forma alguma, o parceiro de que Marega precisava. Aliás, num 4x4x2 mais dinâmico, também deveria ter sido Adrián a funcionar como muleta a Brahimi, dando liberdade ao argelino para procurar a profundidade ou optar pelo jogo interior.
Um tanto ou quanto ingloriamente, Sérgio Conceição acaba apenas por ter um tiro certeiro... mas só no que ao onze do adversário diz respeito, quando, na véspera, durante a conferência de imprensa de antevisão do clássico, disse, com 100 por cento de Enfrentar uma dupla constituída por Soares e Marega era, pelo menos do ponto de vista teórico, o grande teste para Rúben Dias e Ferro, habituados a muito menos pressão num passado recente. O avançado maliano arrancou um amarelo a cada um dos jovens centrais e deu-lhes realmente muito trabalho. Para felicidade dos ‘bebés da Luz’, o outro ‘panzer’ só entrou na meia hora final, quando... Samaris estava mais por perto acerto, a equipa que Bruno Lage faria entrar no Dragão.
O ‘mind game’, completamente legítimo, teve, no entanto, um resultado perverso. É sempre melhor ter um palpite certeiro no onze da equipa que se lidera do que no onze do adversário. Num ponto, Sérgio Conceição tem, contudo, razão. Hoje em dia, o onze do Benfica é conhecido de trás para a frente, o que indica a existência de uma matriz de jogo e de uma série de rotinas já assimiladas. No FC Porto, que até nem teve uma mudança no comando técnico num passado relativamente recente, deveria haver o mesmo grau de conhecimento. Para desespero das hostes azuis e brancas, há sempre um Manafá e Adrián López a surpreenderem.