A PORTA PARA OS QUARTOS ATÉ FOI ABAIXO
Dragões com a dose certa de coração no seu jogo bombardearam o império romano até ao limite das forças. Acabaram felizes e mereceram-no
Truz, truz, quem é? É o dragão a entrar pelos ‘quartos’ dentro pisando uma porta para a felicidade que teimava e esteve mesmo muito perto de não se abrir. O FC Porto garantiu o apuramento para a próxima fase da Champions num duelo de contornos épicos, tanto pelo desenrolar do mesmo como pelas emoções que foram sendo vividas. Do outro lado, a segurar a tal porta, esteve uma Roma rija, dura de vergar, ao estilo italiano, e que só caiu quando os dragões, em vez de abrir, escancararam ‘à força’ a tão desejada passagem. O jogo teve tudo aquilo que os grandes duelos de Champions atraem como ímanes: qualidade técnica, importância estratégica, golos com nota artística e os ner- vos à flor da pele. Neste plano, o das emoções, esteve uma das maiores virtudes dos dragões, que tiveram a dose certa de coração na ‘poção mágica’ – quais gauleses! – para derrotarem os romanos. O FC Porto canalizou de forma positiva a tensão do encontro, esteve sempre ‘vivo’ para o jogo, concentrado, e apenas em dois momentos deixou transparecer alguma perda de foco: nos minutos seguintes ao 1-1 e já na reta final da segunda parte do prolongamento. Tudo bem espremido, a equipa de Sérgio Conceição é uma mais do que digna apurada para os quartos-de-final, sobretudo pela força demonstrada numa segunda parte do tempo regulamentar em que simplesmente deu um verdadeiro ‘amasso’ aos italianos.
Ensaio e recital
Quando colocaram as suas pedras em campo, os dois treinadores surpreenderam em medidas diferentes, com Sérgio Conceição a deixar Brahimi no banco e Di Francesco a apostar num modelo de 3x4x3 de alta densidade em momento defensivo.
Na hora de defender, os italianos estruturavam-se em 5x4x1, o que nem por isso resguardou a sua baliza eficazmente. Até o primeiro golo chegar viram-se essencialmente duas coisas: primeiro, o FC Porto a pressionar muito e bem e a atacar de forma sustentada, sem a tal pressa que Conceição recomendou e sim com a porção certa de dinamismo – com o corredor central congestionado, os dragões escoaram o seu jogo pelos flancos, sobretudo o esquerdo, contornando assim a muralha levantada pelos romanos; segundo, o sempre impressionante e mundialmente famoso pragmatismo italiano foi cumprido em pleno, com os romanos a transmitirem aquela sensação de que, se bola não saísse sequer do círculo central, para eles
já estava bom. Mas o golo de Soares, que teve muito de Marega, na recuperação e na assistência, agitou as águas. A Roma esticou-se um pouco mais e, num penálti cometido por Militão, igualou. Ora, do arranque da segunda parte até ao início da segunda metade do prolongamento só deu literalmente FC Porto. O caro leitor não os pode ver, mas nos meus apontamentos conto neste perío- do uma, duas, três... sete ocasiões claríssimas de golo para os dragões, isto não contando com o tento de Marega, aos 52’, que obrigou a que se disputassem mais 30 minutos de jogo. Foi um período tremendo da parte dos portistas, que ficaram a dever o apuramento no final do tempo regulamentar a si mesmos.
Pepe segurou o rastilho
No prolongamento, com as ‘setas’ Hernâni, Fernando Andrade e Marega na frente portista e a Roma reconstruída em 4x3x3, o jogo partiu... E foi aqui que os italianos estiveram perto da vitória em dois remates de Dzeko, um deles salvo por Pepe a um metro da linha de golo. Não aconteceu. O rastilho ficou curto para a festa italiana, mas sobrou para a do FC Porto que, do outro lado, rebentou enfim com a porta para os ‘quartos’. *