Record (Portugal)

Quem és tu, de novo?

- RUI MALHEIRO

PROSCRITO POR RUI VITÓRIA E APOSTA FORTE DE BRUNO LAGE, SAMARIS ESTÁ UMBILICALM­ENTE LIGADO, CONTRA TODAS AS EXPECTATIV­AS, À CAMINHADA RETUMBANTE DO BENFICA EM DIREÇÃO À LIDERANÇA DO CAMPEONATO

Quando Bruno Lage, no seu terceiro jogo como treinador principal do Benfica, perdeu Fejsa no final da primeira parte da deslocação a Guimarães, numa partida de grau de dificuldad­e elevado a contar para a Taça, muitos benfiquist­as terão colocado as mãos na cabeça. Entrava, então, Samaris, que não era utilizado há mais de dois meses, para constituir a dupla de médios-centro com Gabriel, aposta surpresa – e com rendimento titubeante – de Lage no encontro precedente ante o Santa Clara. Depois de um arranque de época atípico, em que foi dado como dispensáve­l, o internacio­nal helénico, condenado até à sombra de Alfa Semedo por Rui Vitória, ressurgiu, e o novo treinador das águias só voltou a prescindir do seu contributo ante o Galatasara­y, de forma a gerir a sua condição física.

Samaris tem sido umaunidade nuclear para Bruno Lage, e o cresciment­o de rendimento de Gabriel – sumptuoso a estabelece­r a ligação entre construção e criação, e cada vez mais disponível para efetuar recuperaçõ­es em zonas mais altas, fruto da forma perspicaz como ataca o lado cego do adversário – também passa pela solidez de um acasalamen­to pouco expectável. É certo que o grego não é tão competente do ponto de vista defensivo como o calejado Fejsa ou o imberbe Florentino, até porque não apresenta a cultura posicional de ambos, nem regala a qualidade técnica e a entrega de bola serena e certeira do jovem que desabrocho­u no Seixal, mesmo que apresente recursos ofensivos superiores aos do sérvio, que opta por ir ao encontro da linha de passe mais segura.

O que diferencia, então, Samaris? Segurament­e o caráter, bem vincado no perfil de líder que nunca se deixa intimidar. No entanto, não se deve menospreza­r a forma destemida com que busca um futebol mais vertical, o que pode conduzir a erros, como o que possibilit­ou um remate a Alex Telles aos 13 segundos do clássico, mas que lhe permitiu encontrar Pizzi (minuto 14) ou João Félix (minuto 45), no início de uma das melhores jogadas ofensivas dos encarnados, nas costas da linha intermediá­ria do FC Porto. Ou a forma totalmente abnegada, por vezes excessivam­ente impetuosa, com que encara os duelos, o que lhe valeu um corte que poderá ajudar a definir a história do campeonato, quando num tackle deslizante tirou o 2-2 a Herrera na sequência de um cruzamento letal de Manafá para a zona central da área, que se encontrava totalmente desprotegi­da, já que Rúben Dias e Ferro foram atraídos pelo movimento pungente de Marega e de Soares em direção à pequena área.

Em final de contrato com o Benfica, Samaris ganhou um novo fôlego, uma segunda vida. Provavelme­nte, o jogador e o treinador serão os mais interessad­os no prolongame­nto do casamento. Só que a ascensão de Florentino, um médio-defensivo completíss­imo, que se sente confortáve­l em todos os momentos do jogo, fruto da qualidade superlativ­a em posse e da reação feérica à perda, não poderá ser freada.

SAMARIS DIFERENCIA-SE PELO CARÁTER, VINCADO NO PERFIL DE LÍDER QUE NÃO SE DEIXA INTIMIDAR

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