Record (Portugal)

Temos um golo para marcar aqui também!

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Chamo- me Jéssica Silva e sou jogadora de futebol. Desde muito bebé tive uma ligação especial com a bola. Mas só mais tarde, aos 14 anos, tive oportunida­de de representa­r uma equipa de futebol para raparigas.

Foi tudo muito instantâne­o e, depois de inscrita, rapidament­e me apercebi que podia ‘sonhar’ em ser jogadora de futebol. Nada era fácil, os treinos eram super tarde – horários nobres sempre para os rapazes –, tínhamos um campo em que todas as quedas me valiam uma ‘tatuagem’ em crosta, a água no balneário nem sempre era quente. Tchiii! E a roupa do treino ensopada de pedrinhas e terra laranja... Custava um pouco. Quando chega-

GOSTAVA DE FALAR SÓ DE CONQUISTAS, MAS MUITAS MULHERES VIVEM EM PRISÕES

va com a mochila, a minha mãe não gostava nada.

Na altura era impensável sonhar ser profission­al em Portugal, daí o meu objetivo ter sido sempre uma carreira internacio­nal. Com uma passagem pela Suécia e já há duas épocas no Levante, é com bons olhos que vejo o cresciment­o e o aparecimen­to de mais e mais raparigas a quererem jogar, a acreditare­m que podem ser profission­ais. É fruto de acreditare­m que a mulher tem qualidade e um golo a marcar neste ‘mundo’ que é maioritari­amente rodeado e ‘liderado’ por homens.

Gostava muito de estar aqui a falar de como as mulheres continuam a conquistar este Mundo, mas muitas vivem em autênticas prisões e não têm hipótese de sonhar sequer. A violência doméstica já fez muitas vítimas mortais e mexe demasiado comigo. E por isso, infelizmen­te, tinha de o deixar aqui cravado neste texto.

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