Conjuntos de circunstâncias muito invulgares
NA RECONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM DO HACKER, NINGUÉM LEVOU À PALMA O ENVIADO DO ‘EXPRESSO’ A BUDAPESTE. “DE OLHOS FECHADOS, RUI PINTO OLHAVA PARA O TETO DO TRIBUNAL…” PINTO VÊ DE OLHOS FECHADOS. NÃO É SÓ UM HERÓI ROMÂNTICO. TAMBÉM TEM SUPERPODERES.
preciso instante em que um tribunal húngaro decretou a sua extradição, Rui Pinto deixou de ser ‘o hacker do Benfica’ e passou a ser ‘o hacker da Wikileaks’ para a generalidade da imprensa nacional. A aposta num Pinto pirata romântico de índole exclusivamente internacional terá fortíssimas razões que a sustentam, pudera. No entanto, nos termos da reconstrução desta personagem, ninguém levou à palma o enviado especial do ‘Expresso’ a Budapeste. “De olhos fechados, Rui Pinto olhava para o teto do Tribunal…” Pinto vê de olhos fechados. Não é só um herói romântico. Também tem superpoderes.
Depois de amanhã, tem o Benfica um jogo importante a contar para o campeonato, um
jogo tão importante como os outros nove que lhe ficarão a faltar até à conclusão da prova no mês de Maio. Vai receber em sua casa um Belenenses que, pelo andar da carruagem, não tardará a ser obrigado a mudar de nome. Como tudo isto é francamente estranho para quem cresceu a olhar para o Clube de Futebol “Os Belenenses” com a reverência devida a um emblema histórico. A modernidade tramou bem tramado o clube que venceu o cam- peonato nacional da I Divisão na temporada de 1945/46 entre muitas outras glórias menores em 100 anos de vida. Uma decisão do Tribunal da Relação de Lisboa veio esta semana proibir definitivamente a equipa da sociedade anónima liderada por Rui Pedro Soares de se apresentar em campo de Cruz de Cristo ao peito, no seguimento de uma providência cautelar interposta pelo presidente do clube que hoje milita numa divisão distrital e se reclama herdeiro natural do nome e dos símbolos do Belenenses original. Não é, porém, este Belenenses que vai jogar com o Benfica depois de amanhã. É o outro.
É o Belenenses cativo da SAD de Rui Pedro Soares que se vai
apresentar na segunda-feira no Estádio da Luz como se de uma equipa de ‘marca branca’ se tratasse. E, na realidade, é disso mesmo que se trata, por mais exótico que possa parecer. O Belenenses SAD, desautorizado agora por um Tribunal a usar o velho emblema – tal como já lhe tinha sido vedado o acesso ao Estádio do Restelo – é a primeira sociedade anónima de marca branca a competir numa prova oficial de futebol em Portugal. Todo este conjunto de circunstâncias invulgares não faz do próximo adversário do Benfica uma pera doce para o apetite da equipa de Bruno Lage. O interlúdio competitivo registado em Zagreb a meio da semana, onde se viu um Benfica muito, mas mesmo muito pequenino e não o empolgante Baby-Benfica que muitos esperavam, só pode significar que Lage, no que toca ao campeonato nacional, não vai em cantigas nem, muito menos, em desconsiderações pelos seus adversários.
Está, portanto, explicada a po
bre exibição do Benfica frente ao Dínamo de Zagreb que, ainda assim, conseguiu ser bastante pior do que o resultado. Nem tudo foi mau.
DECISÃO DO TRIBUNAL TRANSFORMA O BELENENSES SAD NUMA ‘ MARCA BRANCA’