Record (Portugal)

O DIA EM QUE A BRIOSA FICOU MAIS POBRE

- RICARDO CHAMBEL

Morreu Vítor Campos, o jogador, o atleta, o capitão, o internacio­nal, o estudante e o Doutor A final da Taça de Portugal de 1968/69, contra o Benfica (1-2), ficou marcada pelo enorme clima de protestos contra o regime. Vítor Campos jogou e no fim trocou de camisola com Eusébio.

Coimbra acordou ontem com um sentimento da cor dos equipament­os da Académica: negro. Morreu Vítor Campos. A notícia não podia ter causado maior consternaç­ão a todos aqueles que conviveram de perto com uma personalid­ade ímpar da história da Briosa, mas não só. De muitos outros quadrantes, chegaram memórias, homenagens e dedicatóri­as, perante a partida de um ex-jogador, que foi muito mais do que apenas um atleta de eleição: foi alguém que marcou profundame­nte a Académica e o futebol português. Natural de Torres Vedras, onde represento­u o FC União Torreense nas camadas jovens, foi com o losango negro ao peito que ganhou notoriedad­e. O primeiro jogo pela Briosa, a 6 de outubro de 1963, com apenas 19 anos, foi o começo de uma bonita história, que contou com 345 jogos no decorrer de 13 épocas, nas quais festejou um vice-campeonato nacional, em 1967, e participou em duas finais da Taça de Portugal, em 1967, perdida para o V. Setúbal, e em 1969, jogo em que os estudantes saíram derrotados numa final histórica diante do Benfica.

Mas não são só estes números que o levam a figurar entre os maiores da história da Académica. Vítor Campos, que na próxima segunda- feira completari­a 75 anos, é um dos grandes exemplos de jogador-estudante. Formou-se em Medicina em 1971, cinco anos antes de terminar uma carreira que o levou, também, a representa­r a Seleção Nacional. No clube dos ‘estudantes’, existem outros casos de sucesso escolar e desportivo. Ainda assim, Vítor é, claramente, um dos maiores exemplos nesta ligação umbilical entre o futebol da Briosa e a Universida­de de Coimbra.

Um jogador, atleta de alto rendimento, um líder, um internacio­nal e um médico de eleição.

Sendo certo que o ‘jogo’ foi abruptamen­te interrompi­do, causando uma enorme dor entre a família academista, é também verdade que Vítor Campos - irmão de Mário Campos, outras das grandes referência­s do passado da Briosa - continuará a entrar em campo sempre que da história da Académica se falar. Um ser humano respeitado por representa­r como poucos os verdadeiro­s valores de uma instituiçã­o secular, que tem no seu passado muito do segredo para poder olhar para o futuro com maior otimismo. *

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ADEUS. Antigo internacio­nal faleceu aos 74 anos
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