O DIA EM QUE A BRIOSA FICOU MAIS POBRE
Morreu Vítor Campos, o jogador, o atleta, o capitão, o internacional, o estudante e o Doutor A final da Taça de Portugal de 1968/69, contra o Benfica (1-2), ficou marcada pelo enorme clima de protestos contra o regime. Vítor Campos jogou e no fim trocou de camisola com Eusébio.
Coimbra acordou ontem com um sentimento da cor dos equipamentos da Académica: negro. Morreu Vítor Campos. A notícia não podia ter causado maior consternação a todos aqueles que conviveram de perto com uma personalidade ímpar da história da Briosa, mas não só. De muitos outros quadrantes, chegaram memórias, homenagens e dedicatórias, perante a partida de um ex-jogador, que foi muito mais do que apenas um atleta de eleição: foi alguém que marcou profundamente a Académica e o futebol português. Natural de Torres Vedras, onde representou o FC União Torreense nas camadas jovens, foi com o losango negro ao peito que ganhou notoriedade. O primeiro jogo pela Briosa, a 6 de outubro de 1963, com apenas 19 anos, foi o começo de uma bonita história, que contou com 345 jogos no decorrer de 13 épocas, nas quais festejou um vice-campeonato nacional, em 1967, e participou em duas finais da Taça de Portugal, em 1967, perdida para o V. Setúbal, e em 1969, jogo em que os estudantes saíram derrotados numa final histórica diante do Benfica.
Mas não são só estes números que o levam a figurar entre os maiores da história da Académica. Vítor Campos, que na próxima segunda- feira completaria 75 anos, é um dos grandes exemplos de jogador-estudante. Formou-se em Medicina em 1971, cinco anos antes de terminar uma carreira que o levou, também, a representar a Seleção Nacional. No clube dos ‘estudantes’, existem outros casos de sucesso escolar e desportivo. Ainda assim, Vítor é, claramente, um dos maiores exemplos nesta ligação umbilical entre o futebol da Briosa e a Universidade de Coimbra.
Um jogador, atleta de alto rendimento, um líder, um internacional e um médico de eleição.
Sendo certo que o ‘jogo’ foi abruptamente interrompido, causando uma enorme dor entre a família academista, é também verdade que Vítor Campos - irmão de Mário Campos, outras das grandes referências do passado da Briosa - continuará a entrar em campo sempre que da história da Académica se falar. Um ser humano respeitado por representar como poucos os verdadeiros valores de uma instituição secular, que tem no seu passado muito do segredo para poder olhar para o futuro com maior otimismo. *