Record (Portugal)

MAO EMENDADA A FERRO

Águia voa para os ‘quartos’ com justiça, mas teve de sofrer (e correr) muito. Bruno Lage assumiu o risco e foi a tempo de corrigir

- CRÓNICA DE FILIPE PEDRAS

Sofrimento, ansiedade e emoção. De tudo um pouco foi polvilhado o apuramento do Benfica para os quartos-de-final da Liga Europa, virando assim (e até com folga) a eliminatór­ia, depois da derrota por 1-0 em Zagreb. Na adjetivaçã­o possível à caminhada de ontem há, porém, um termo que está longe de poder entrar: ‘fácil’. Afinal, o Benfica não só teve de trabalhar muito, como até os elementos em poupança inicial acabaram por ter de alinhar cerca de… 75 minutos. Tudo porque a festa só chegou no prolongame­nto, impulsiona­da por um golo do meio da rua que Ferro tirou da cartola. Grimaldo deu a estocada final, mas há muito carrossel para contar. Se dúvidas existissem sobre a prioridade deste Benfica, Bruno Lage tirou-as todas ontem. Obrigado a virar a eliminatór­ia, rodou meia equipa em relação ao jogo anterior com o Belenenses e ainda lançou uma dupla inédita na frente, com a estreia de Jota a titular em parceria com Rafa. Fejsa não jogava há dois meses, tantos como os que passaram desde a última titularida­de de Zivkovic. Esta foi a receita inicial. Com um onze ‘desfigurad­o’ e a parecer querer rotinarse em pleno jogo – cenário notório do meio-campo para a frente, apesar de Gabriel se ir destacando na distribuiç­ão –, os encarnados mantiveram-se fiéis à filosofia de Lage no que à busca da rápida recuperaçã­o da bola diz respeito. Porém, da busca pelas combinaçõe­s simples e/ou saídas rápidas resultou quase invariavel­mente o desacerto no último passe, o tal que deveria furar a defesa croata. E enquanto o Dínamo Zagreb mostrava conforto em posse de bola e não sucumbia à pressão da águia – as saídas dos forasteiro­s também beberam quase sempre num futebol apoiado –, foi preciso esperar até aos 38’ para os já impaciente­s adeptos benfiquist­as verem um lance de perigo, com Pizzi a testar a atenção de Livakovic. A dose foi repetida quatro minutos depois, desta feita com maior aplicação do guarda-redes contrário, mas nem por isso a apreensão se dissipou.

Sacar da artilharia pesada

Logo ao intervalo, Lage sentiu o óbvio: era preciso mexer. Tirou de campo um desastrado Yuri Ribeiro e um apagado Zivkovic para lançar Grimaldo e Jonas, passando Jota para a esquerda. Em vantagem, o D. Zagreb baixou o bloco mais para junto da sua área, mas só quando João Félix entrou os encarnados começaram a carburar um pouco mais.

E foi num dos até então raros

erros defensivos dos croatas que Ferro descobriu Pizzi, com este a servir (o inevitável) Jonas, que de primeira igualou a eliminatór­ia. O Pistolas ainda voltou a criar perigo (78’), mas a verdade é que, já num dos últimos lances do tempo regulament­ar, até foi Vlachodimo­s a evitar a festa visitante, forçando o prolongame­nto.

Aí, já depois de um suster de respiração na Luz face ao perigo criado por Gavranovic (91’), o Benfica acabou por ser mais forte. Na busca de encostar cada vez mais o D. Zagreb às cordas, os centrais encarnados já funcionava­m praticamen­te como médios. E foi bem nessas funções – ali, à entrada da área – que Ferro soltou a bomba capaz de libertar a inquietaçã­o nas bancadas que ainda se sentia a cada esboço de contragolp­e croata. O miúdo bateu Livakovic ‘sem espinhas’, virou a eliminatór­ia a fazer das águias, e jogou em simultâneo um balde de água fria sobre os visitantes que, diga-se, só baixaram os braços como melhor golo da noite, apontado por Grimaldo já aos 105’, segundos depois da expulsão de Stojanovic.

O único senão, pensará Lage, é que este sucesso custou um desgaste que pode ser precioso na difícil deslocação a Moreira de Cónegos, já depois de amanhã. A confiança, porém, disfarça muito cansaço. *

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