Record (Portugal)

O talento de Messi na cabeça de Cristiano

- Alexandre Pais

Se soubesse que mais depressa acontecia, mais cedo teria falado... Estou a brincar, obviamente, mas a verdade é que contra o meu prognóstic­o sombrio de há oito dias, Cristiano Ronaldo voltou a fazer história com uma nova exibição de qualidade inatingíve­l por qualquer futebolist­a.

Sim, nemporMess­i,

que tem um talento futebolíst­ico só ao nível de Pelé e de Maradona –concordo com Fabio Capello –, mas que não supera em força mental, capacidade de jogar sob pressão e multiplici­dade de recursos o madeirense. Umé indiscutiv­elmente um génio, mas ooutroé‘o’ competidor por excelência. Eusébio também não era Pelé e fez, com a bola, coisas que ninguém igualou. Sou fiel a uma lição de Artur Agostinho, mestre e lenda deste jornal e de muito mais: o futebol nãoé literatura esód evemos comparar oqueé comparável, não se podendo apontar o melhor sem ter em conta tempo e circunstân­cias. E divirto-me com as exaltações que resultam unicamente de paixões acéfalas.

Quando Cristiano parecia em baixoe Messi

se mantinha igual a si próprio, surgiu a atuação monumental no Juventus Stadium e o nosso craque voltou a ser o maior. Mas logo o argentino re- cuperou a espuma mediática com duas assistênci­as e dois golos ao Lyon, instalando, outra vez, a dúvida. Não vou por aí, quero continuar a desfrutar do prazer –e da sorte, tremenda –de ser contemporâ­neo de dois futebolist­as extraordin­ários que cometeram a proeza de cada um ter impedido o outro de ganhar todos os prémios individuai­s por mais de uma década.

Só me lembro de dois desportist­as,

dos melhores de sempre, Roger Federer e Michael Jordan, que dispuseram em simultâneo do arsenal técnico inato de Messi e da capacidade mental de Cristiano. Não há competidor­es perfeitos, deixemos aos idólatras a amargura de viver nessa ilusão.

A exemplo de Leonardo Jardim,

que levou no sábado o Monaco a vencer o Lille, em casa do segundo classifica­do da Ligue 1, Zidane meteu mãos à tarefa de recuperar o Real Madrid das asneiras dos antecessor­es. Navas, Marcelo, Isco e Bale voltaram a ser titulares e o resultado foi claro: uma enorme e providenci­al defesa do guarda-redes, o primeiro golo com assinatura de Isco e o segundo de Bale... com assistênci­a de Marcelo. E assim começam a recuperar valor os melhores ativos madridista­s, que se encontrava­m na iminência de ser despachado­s a qualquer preço. Até as evidências pareciam difíceis de ver em Madrid.

FaltouBrun­oAlves, que se mantém em forma –aos 37 anos –, nas opções de Fernando Santos, forçado a convocar apenas três centrais, tal a dificuldad­e das escolhas para os sectores da frente. Ainda este fim de semana vimos a excelência da condição atual de Bernardo Silva, decisivo na reviravolt­a do City, e de João Moutinho e Diogo Jota, sublimes também no lance do primeiro golo, e na preparação e concretiza­ção do segundo, respetivam­ente, que permitiram ao Wolves eliminar o MU. Que grande Seleção vem aí!

SÉRGIO CONCEIÇÃO TEVE A HONRA DE SER INSULTADO POR UM POLÍTICO EXECRÁVEL A ÚLTIMA EXIBIÇÃO DE RONALDO, SOB PRESSÃO, FOI DE UMA QUALIDADE INATINGÍVE­L POR QUALQUER OUTRO FUTEBOLIST­A. MESSI É UM GÉNIO, MAS CR7 É‘ O’ COMPETIDOR POR EXCELÊNCIA

Sérgio Conceição foi há dias alvodairad­e um político execrável, que o tratou de forma supostamen­te insultuosa. Vindo de quem veio, lá tão das profundeza­s da decência, foi uma honra, Sérgio, acredita.

O último parágrafo vai para o jornalista Bernardo Ribeiro, novo diretor de Record, com quem tive o privilégio de começar a trabalhar há já mais de 20 anos –como isto passa depressa... E a mensagem é simples: que possas continuar a fazer do nosso jornal uma referência. É bom ter podido ainda ver-te no cabeçalho neste meu tempo final de atividade. Boa sorte!

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