O talento de Messi na cabeça de Cristiano
Se soubesse que mais depressa acontecia, mais cedo teria falado... Estou a brincar, obviamente, mas a verdade é que contra o meu prognóstico sombrio de há oito dias, Cristiano Ronaldo voltou a fazer história com uma nova exibição de qualidade inatingível por qualquer futebolista.
Sim, nemporMessi,
que tem um talento futebolístico só ao nível de Pelé e de Maradona –concordo com Fabio Capello –, mas que não supera em força mental, capacidade de jogar sob pressão e multiplicidade de recursos o madeirense. Umé indiscutivelmente um génio, mas ooutroé‘o’ competidor por excelência. Eusébio também não era Pelé e fez, com a bola, coisas que ninguém igualou. Sou fiel a uma lição de Artur Agostinho, mestre e lenda deste jornal e de muito mais: o futebol nãoé literatura esód evemos comparar oqueé comparável, não se podendo apontar o melhor sem ter em conta tempo e circunstâncias. E divirto-me com as exaltações que resultam unicamente de paixões acéfalas.
Quando Cristiano parecia em baixoe Messi
se mantinha igual a si próprio, surgiu a atuação monumental no Juventus Stadium e o nosso craque voltou a ser o maior. Mas logo o argentino re- cuperou a espuma mediática com duas assistências e dois golos ao Lyon, instalando, outra vez, a dúvida. Não vou por aí, quero continuar a desfrutar do prazer –e da sorte, tremenda –de ser contemporâneo de dois futebolistas extraordinários que cometeram a proeza de cada um ter impedido o outro de ganhar todos os prémios individuais por mais de uma década.
Só me lembro de dois desportistas,
dos melhores de sempre, Roger Federer e Michael Jordan, que dispuseram em simultâneo do arsenal técnico inato de Messi e da capacidade mental de Cristiano. Não há competidores perfeitos, deixemos aos idólatras a amargura de viver nessa ilusão.
A exemplo de Leonardo Jardim,
que levou no sábado o Monaco a vencer o Lille, em casa do segundo classificado da Ligue 1, Zidane meteu mãos à tarefa de recuperar o Real Madrid das asneiras dos antecessores. Navas, Marcelo, Isco e Bale voltaram a ser titulares e o resultado foi claro: uma enorme e providencial defesa do guarda-redes, o primeiro golo com assinatura de Isco e o segundo de Bale... com assistência de Marcelo. E assim começam a recuperar valor os melhores ativos madridistas, que se encontravam na iminência de ser despachados a qualquer preço. Até as evidências pareciam difíceis de ver em Madrid.
FaltouBrunoAlves, que se mantém em forma –aos 37 anos –, nas opções de Fernando Santos, forçado a convocar apenas três centrais, tal a dificuldade das escolhas para os sectores da frente. Ainda este fim de semana vimos a excelência da condição atual de Bernardo Silva, decisivo na reviravolta do City, e de João Moutinho e Diogo Jota, sublimes também no lance do primeiro golo, e na preparação e concretização do segundo, respetivamente, que permitiram ao Wolves eliminar o MU. Que grande Seleção vem aí!
SÉRGIO CONCEIÇÃO TEVE A HONRA DE SER INSULTADO POR UM POLÍTICO EXECRÁVEL A ÚLTIMA EXIBIÇÃO DE RONALDO, SOB PRESSÃO, FOI DE UMA QUALIDADE INATINGÍVEL POR QUALQUER OUTRO FUTEBOLISTA. MESSI É UM GÉNIO, MAS CR7 É‘ O’ COMPETIDOR POR EXCELÊNCIA
Sérgio Conceição foi há dias alvodairade um político execrável, que o tratou de forma supostamente insultuosa. Vindo de quem veio, lá tão das profundezas da decência, foi uma honra, Sérgio, acredita.
O último parágrafo vai para o jornalista Bernardo Ribeiro, novo diretor de Record, com quem tive o privilégio de começar a trabalhar há já mais de 20 anos –como isto passa depressa... E a mensagem é simples: que possas continuar a fazer do nosso jornal uma referência. É bom ter podido ainda ver-te no cabeçalho neste meu tempo final de atividade. Boa sorte!