Record (Portugal)

VARELA ABRE O CORAÇÃO

“Rui Vitória disse-me que ia ser terceira opção”

- VALTER MARQUES

“Alguém fará uma loucura por João Félix”

“Golo de Herrera foi o momento mais duro da minha carreira”

“Luisão faz muita falta no balneário”

“UM TALENTO DESTES, SE TIVER DE SAIR DO BENFICA, PELO MENOS QUE SEJA POR VALORES MUITO ALTOS” “ANTES DO JOGO COM O FENERBAHÇE, RUI VITÓRIA DISSE-ME QUE, SE FICASSE NO BENFICA, SERIA TERCEIRA OPÇÃO”

Dois meses depois de ter chegado ao Ajax, que balanço faz? BV – Tem sido positivo, muito positivo mesmo. Tanto a nível pessoal, como profission­al. Adapteime muito rapidament­e e nisso tenho de agradecer aos meus colegas, que me ajudaram muito. Também me tenho adaptado rapidament­e à cultura. Só custa o frio.

É pouco tempo, mas já viveu grandes momentos, como aquela noite no Santiago Bernabéu.

BV – Foi para além de incrível, histórico! Tínhamos noção do quão histórico poderia ser uma vitória ali e fizemos quatro golos na casa do Real Madrid. Não é qualquer equipa que o faz e nós fizemo-lo com personalid­ade. A chave foi acreditarm­os, termos a confiança de que éramos capazes. Depois do jogo de Amesterdão, ficámos com um sentimento agridoce. Merecíamos mais e sabíamos que era possível. É verdade que o Real não estava na melhor fase, mas é o Real, equipa com jogadores top e nunca sabes o que pode acontecer. Conseguimo­s fazer quatro golos, fazer história. Foi festejar. Foram celebraçõe­s quase toda a noite.

E agora vem a Juventus, outro candidato a ganhar a Champions. BV – Sim, mas temos feito uma campanha muito boa e já se olha para o Ajax com respeito. Eu não estava aqui na fase de grupos, mas tenho a certeza de que quando viram que calhou o Benfica, o Bayern e o AEK no sorteio, se calhar aqui achavam que seria muito complicado passar. A verdade é que passaram sem perder nenhum jogo. Em Munique não ganharam porque não calhou e em Amesterdão foi um jogo de loucos, em que estávamos a ganhar 3-1 aos 87 minutos. Lembro-me de que um dos treinadore­s que estava na equipa técnica do Benfica destacou logo o Ajax. Disse que era a melhor equipa. Taticament­e muito fortes e com um estilo de jogo muito bom. Quando jogámos contra eles, percebemos isso. Agora parece que já todos respeitam o Ajax. Metemos respeito a qualquer equipa.

Mas Juventus é Juventus.

BV – Juventus é Juventus e, tendo o Ronaldo, que já mostrou que é capaz de resolver qualquer jogo, será difícil, mas temos chances. Tal como frente ao Real Madrid estávamos confiantes, agora também.

Mas a verdade é que, tal como no Benfica, também no Ajaxainda não fez qualquer jogo.

BV – Quando chegas a meio da época, e tendo em conta que saí de um contexto no Benfica em que era terceira opção, fica mais complicado. Vim para um contexto melhor, pois aqui sou segundo. Tem jogado o André Onana, que tem estado muito bem, mas tenho trabalhado bem, já fiz particular­es e as coisas correram de forma positiva. Tenho-me adaptado bem ao estilo de jogo deles, que é diferente. Res- ta-me trabalhar e estar pronto para quando for chamado. Temumaboar­elação como André Onana?

BV – Muito boa. Somos muito unidos. Fui muito bem recebido por todos, por toda a equipa e staff. E o André também me recebeu de forma impecável; não poderia pedir melhor. Uma coisa que facilita é o facto de falarmos os dois espanhol. Brincamos, contamos piadas. Sempre alegres. Trabalhamo­s bem, no duro. O que caracteriz­a o André é a alegria que transmite.

Mas também foi recebido naestrutur­a por duas antigas estrelas do futebol mundial.

BV – [Risos] O Overmars, lembrome bem dele no Barcelona e vê-se que é alguém muito respeitado aqui. Por tudo o que fez enquanto jogador, foi e tem sido respeitado pelo que tem feito enquanto treinador. Ele agora renovou até 2022 e isso é a maior prova do que as pessoas no clube pensam dele. Já o Van der Sar, a primeira vez que olhei para ele até me fez confusão. Aquele rapaz que vi anos e anos a brilhar no Manchester United... Quando vi aquele corpo de gigante fiquei... Não fiquei assustado, mas tímido. Tenho a honra de poder partilhar muitos dos nossos dias com duas pessoas que brilharam nos respetivos tempos. Deixaram marcas.

No Ajax, tem no plantel o Frenkie De Jong, que irá para o Barcelona, numa transferên­cia que pode chegar aos 86 milhões de euros. Justifica-se?

BV – Do que tenho visto e tendo em conta o mercado, acho que o Barcelona fez um excelente negócio. Pelo jogador e pela idade, poderia ser vendido por mais. O Barcelona comprou por baixo valor e tem de estar contente pelo negócio. É craque. Não gosto de comparaçõe­s, mas o que tinha visto mais perto dele, pela qualidade, tinha sido o

Félix. O futebol vai ter aí craques para dar e vender.

Por falar em João Félix, considera ajustada a cláusula de rescisão de 120 milhões com que o Benfica o blindou? BV – Não me surpreende. Como está o mercado hoje em dia... Ele tem 19 anos, todos os fins de semana faz grandes exibições. Tem demonstrad­o que é um dos grandes talentos portuguese­s. Olhando ao mercado, haverá uma equipa que cometerá essa loucura. O mercado está assim e tem tendência para se aproveitar. O Benfica tem de jogar com isso. Um talento como este, se tiver de sair, pelo menos que saia por valores muito altos. Era fácil adivinhar esta explosão do João Félix? BV – Desde o ano passado, em que ele treinava connosco, entre nós, dizíamos que seria jogador top, top! Mas os outros também. Todos eles. Sempre dissemos que iriam chegar aqui e jogar. Há uns que pegam mais rápido do que outros. O Ferro teve a oportunida­de e agarrou-a muito firme. O Gedson acaba por ter oportunida­des na pré-época e conquistou a titularida­de. Da maneira como tem sido o processo no Benfica, sabia que mais ano ou menos ano acabariam por jogar. Como explica que com Rui Vitória não jogasse tanto?

BV – São opções técnicas, mas penso que a tática não era a melhor para o Félix. Sente-se melhor no 4x4x2. Ele gosta de jogar na frente, com companhia. No 4x3x3 as oportunida­des não eram tantas, pois era uma posição diferente daquela em que se sente mais confortáve­l. Ele está a jogar bem e a conseguir mostrar a sua qualidade.

Voltando a si, passou de titular a terceira opção. Rui Vitória alguma vez lhe explicou qual a razão? BV – Sim, teve uma conversa comigo a meio de agosto, penso, e eu entendi o contexto. É que eu estava para sair do Benfica. Era do conhecimen­to de todos que havia propostas de Inglaterra, França e também de outros países, mas por várias questões as coisas não se realizaram. Aquilo que o míster me disse foi que, como não tinha a certeza de que eu ficasse, na préépoca só daria tempo de jogo aos outros dois. Quando o tempo começou a passar e eu não saí, ele falou comigo e disse que o Vlachodimo­s estava bem e não via motivos para o tirar. Penso que foi antes do primeiro jogo com o Fenerbahçe que ele me disse que, se ficasse, seria como terceira opção. Não é fácil, mas há que ser homem e dizer as coisas como são e ele disse. Explicou e é verdade, mas as negociaçõe­s é que não chegaram ao ponto que o clube queria. Tem um empréstimo de meia época com o Ajax, mas o clube pode exercer opção de compra de cinco milhões de euros no final. É o que deseja? BV – É muito cedo para dizer alguma coisa ou se gostaria de ficar ou não. Seria um bom passo para mim e para a minha carreira ficar aqui, mas voltar ao Benfica também seria muito bom. Ambas as opções estão em aberto. Não sei o que se vai passar, mas qualquer uma das opções será boa. O Benfica é a minha casa e sou sempre feliz ali. Se tiver de dar este passo, ficarei muito feliz. *

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AMIZADE. Varela é há vários anos amigo de João Félix
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