Trovas de um vento que passa
APÓS UM MUNDIAL DECECIONANTE, FERNANDO SANTOS PERCEBEU QUE O CAMINHO ATÉ AO EURO’2020 PASSAVA POR MELHORAR SUBSTANCIALMENTE A QUALIDADE DE JOGO, INTRODUZINDO NOVOS PROTAGONISTAS. CONSEGUIU-O, ADINDO RESULTADOS, MAS O DUPLO EMPATE CASEIRO ANTE UCRÂNIA E SÉ
Os sinais de um crescimento substancial da qualidade de jogo da Seleção Nacional, visíveis no período entre setembro e novembro, que coincidiram com uma qualificação serena e com alguns momentos de brilhantismo para a fase final da Liga das Nações, não se esmoreceram. Diluíram-se por completo.
Bastaram 90 minutos de um futebol de parquíssimas ideias ante a Ucrânia, com a equipa organizada estruturalmente num híbrido entre o 4x3x3 e o 4x4x2, para os sinais de alarme tocarem a rebate. Usou-se e abusou-se do jogo exterior, fazendo a bola circular desmesuradamente em ‘U’, o que resultou numa série de cruzamentos desenxabidos e incapazes de encontrar correspondência vitoriosa em relação à baliza rival.
Tudo teria sido equivocadamente atenuado pela turba resultadista, se Pyatov não desafiasse as leis da física para travar remates que em tantos outros jogos tão insípidos como aquele redundaram em golo do triunfo. Contudo, passaram-se quatro meses do último jogo oficial, e o tempo que Fernando Santos teve ao seu dispor para treinar e robustecer o modelo de jogo antes deste duplo confronto é demasiado curto, sobretudo quando comparado ao de um treinador de clube.
Osminutosiniciaisdojogocontra aSérviaprenunciaram algo diferente. Mas foram pouco mais do que promessas. Os desequilíbrios no momento de transição defensi- va, já vistos ante a Ucrânia, principalmente após a saída de Rúben Neves, conduziram à desvantagem no marcador. Seguir-se-ia um futebol soluçante, impaciente e excessivamente individualista que fez disparar as arduidades para estabelecer conexões bem-sucedidas entre a criação e a finalização.
Algo que só seria atenuado, já sem Cristiano Ronaldo em campo, quando Bernardo se fixou mais no corredor central, e a orga- nização estrutural se transformou do 4x4x2 inicial num 4x2x3x1. Aconteceu o empate, numa definição tão rara como antológica de Danilo, mas faltou consistência à afirmação de um futebol mais conectivo, que, ainda assim, procurou alternar a criação entre o espaço exterior e o espaço interior ao invés do que acontecera frente aos ucranianos.
Os dois empates caseiros nas duas primeiras partidas da qualificação para o Euro’2020 fazem soprar ventos adversos. Não faz sentido pensar pequeno, independentemente da decisão que a UEFA venha a tomar sobre a utilização de Moraes pela Ucrânia, ao saber-se que a presença no playoffde acesso à grande com- petição internacional já está garantida via Liga das Nações. Urge, sim, dar a volta dentro de campo. Há todas as condições para o fazer, pois o grupo que o Engenheiro tem em mãos é superior e mais abundante em relação ao que recebeu quando sucedeu a Paulo Bento.
Importaperceber que tão ou mais fulcral do que ganhar a (primeira) fase final da Liga das Nações, que será disputada no Porto e em Guimarães, será aproveitar todo o tempo de trabalho para robustecer o modelo de jogo, encontrando um caminho que permita somar 6 vitórias nos 6 jogos que faltam disputar no caminho até ao Euro. Sabendo que o próximo, no dealbar de setembro, será uma exigentíssima deslocação à Sérvia.
Mesmo para quem acredita que o modelo está sempre à frente da estrutura, o recurso ao 4x4x2 em losango, que Fernando Santos tão bem conhece da sua larga experiência como treinador de clubes, deverá entrar na mesma equação do 4x3x3, do 4x4x2 clássico e do 4x2x3x1. Até porque Ronaldo, funcionando como um dos avançados, e Bernardo, como vértice superior (móvel) do losango, partiriam das posições em que se sentem mais confortáveis. Juntase a esse facto o perfil ofensivo de ambos os laterais, sagazes a oferecer largura e a atacarem a profundidade, e o vasto leque de soluções para o meio-campo, repleto de jogadores multifacetados capazes de perceber o binómio equilíbrio-desequilíbrio.
NÃO HÁ QUE PENSAR PEQUENO. O TÉCNICO TEM DE ENCONTRAR O CAMINHO PARA GANHAR SEIS JOGOS