Record (Portugal)

O pelourinho do futebol

- Nuno Encarnação Gestor

Para quem não se recorda, os pelourinho­s eram colunas de pedra, colocadas em lugares públicos centrais, onde se castigavam os criminosos há alguns séculos.

Nove séculos depois, os pelourinho­s do futebol são outros. Não são feitos de pedra, mas sim de vídeo e áudio. As gravações áudio que temos ouvido de telefonema­s entre empresário­s e presidente (Vieira para variar) e os vídeos a que todos assistimos durante esta semana entre dois empresário­s/dirigentes (que infelizmen­te passámos a conhecer), transforma­m as plataforma­s como o YouTube ou outras redes sociais, nos mais modernos pelourinho­s da sociedade.

O futebol está assim. Bastará gravar uma conversa em áudio ou vídeo, extrair uma confissão de alguém ou criar uma conversa como engodo para que a mesma seja difundida, expondo deste modo os criminosos na praça pública. Se antes alguns dos povos apedrejava­m os infratores amarrados nos pelourinho­s, hoje simplesmen­te fazem os comentário­s aos vídeos colocados na Internet ou os ‘likes’ necessário­s para que estes se tornem um grande aplauso da humilhação humana. As redes sociais são hoje autênticas vias verdes no julgamento dos mesmos. A sociedade de hoje não está habituada a esperar. A Justiça é tão lenta, tão lenta que é logo à partida injusta pelos anos que demora a decidir.

Veja-se bem o caso de uma hi- potética descida de divisão do Benfica, baseada nos diversos emails que todos lemos ou nos jogos à porta fechada pelo alegado apoio às claques feito pelo clube da Luz. Quanto tempo demorará até haver uma decisão definitiva? O pensamento popular é simples, se a Justiça não atua na hora, o ser humano resolve num julgamento sumário. Em minutos ou dias, destrói qualquer pessoa que seja apanhada/gravada numa qualquer rede social cujas audiências superam os shares da

OS TRIBUNAIS DO FUTEBOL SÃO AS REDES SOCIAIS E SUBSTITUEM O PODER JUDICIAL

casa da Cristina.

O grave de tudo isto é que estas práticas começam a fazer escola, educam uma sociedade a substituir o poder judicial. Os tribunais do futebol são hoje as redes sociais. Não proferem sentenças, mas colocam o ‘apanhado’ no banco dos réus sem direito a defesa. A imagem e o áudio são como o algodão, não enganam! O ‘banco dos réus’ continua a colocar Vieira e os seus próximos a julgamento popular. Esta semana foi mais uma entre tantas.

Ou a Justiça começa a ser célere nas suas conclusões e condenaçõe­s, ou, caso contrário, os ‘juízes’ quando derem a conhecer a sua sentença, já o réu foi condenado por um País inteiro.

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