A paixão de Lage
No lançamento do jogo com o Feirense, Bruno Lage afirmou: “Das melhores coisas que vou levar neste início de carreira é o apoio dos adeptos. As nossas chegadas aos estádios são das coisas mais indescritíveis”. Para depois confessar que quase começa “a ter inveja dos jogadores”, acrescentando que é “de ficar com a garganta seca, arrepiadíssimo e com uma enorme vontade de os representar dentro de campo”.
No estado em que se encontra o ambiente em torno do futebol português, talvez valha mesmo a pena regressar ao essencial, à paixão pelo jogo, que junta adeptos a jogadores e treinadores e que tem nas camisolas dos clubes o elo de ligação.
Há, écerto, muitosmotivos que explicam o ambiente doentio que envolve o futebol: dos recursos crescentes em torno do negócio (que aumentam a obrigação de vencer, custe o que custar), passando pelos departamentos de comunicação que propagam narrativas que contaminam as redes sociais, aos media tradicionais que, em nome do que resta das audiências, reproduzem ‘ad nauseam’ debates inconclusivos. Aencimar tudo isto, a introdução do VAR que, enquanto aponta no bom caminho, tem tido dores de crescimento, tornando mais visível a mediocridade de muitas arbitragens. Como dizia, há semanas, o presidente do Atlético Madrid, “antes do VAR tínhamos um problema, agora temos dois”.
Mas, damesmaformaquehá váriasexplicaçõespara o ambiente insustentável, só há uma forma de o combater. Concentrar toda a atenção no futebol jogado e dar mais espaço aos verdadeiros protagonistas. Exatamente o que não é feito nem pelos clubes, nem pela comunicação social.
RegressoaBrunoLage eàconferênciade imprensaapós a vitória do Benfica com o Feirense. No meio do ruído, terá passado despercebida a referência do treinador a um episódio ocorrido num aflito Swansea e que se repetiu, agora, num Benfica que lidera –uma criança ofereceu um desenho com a
FICO CONTENTE POR UMA VEZ MAIS TER UM TREINADOR QUE É ADEPTO
mesma garantia: aconteça o que acontecer, na próxima temporada estará, de novo, a apoiar o clube.
Comobenfiquista, ficocontentepor uma vez mais ter um treinador que é um adepto como nós –que fica com a garganta seca quando os cânticos celebram as nossas camisolas e que, passam os anos, não supera a inveja face a todos os que tiveram a fortuna de defender em campo as cores do Glorioso. E, acima de tudo, um treinador que partilha a memória infantil que alimenta a paixão pelo jogo. Aliás, pergunto-me mesmo se todos aqueles que publicam frames de jogadas e que, semana a semana, discutem arbitragens, mobilizando os mesmo argumentos da semana anterior, mas agora em sentido contrário, gostam de futebol ou, sequer, se merecem o jogo fascinante que, pese embora tudo em seu redor, o futebol continua a oferecer.