Record (Portugal)

“Merecia ser aposta no Benfica”

E A GRANDE ÉPOCA NO SANTA CLARA

- TEXTOS LUÍS PEDRO SILVA FOTOS NUNO GOMES

Figura de destaque na boa época do Santa Clara, o defesa-central lembra que poderia ter tido uma oportunida­de no clube em que se formou. Orgulhoso da carreira que tem construído, sonha, aos 24 anos, chegar à Seleção Nacional

Como analisa o desempenho do Santa Clara nesta época de regresso à 1.ª Liga. Considera que a equipa está a surpreende­r os adversário­s?

FÁBIO CARDOSO – Não estou surpreendi­do com os resultados do Santa Clara! Estou a trabalhar com a equipa desde o início da época e conheço a qualidade e o empenho do nosso trabalho diário. Mesmo quando poucas pessoas acreditava­m no potencial do Santa Clara, no início do campeonato, acreditámo­s sempre que tínhamos tudo para fazer uma boa campanha. Acredito que o trabalho e a união da equipa foi a grande chave para um sucesso que queremos prolongar até ao final do campeonato.

Na formação do Benfica foi companheir­o de alguns futebolist­as que chegaram à equipa principal, como Gonçalo Guedes, João Cancelo ou Renato Sanches. Aépoca que está a realizar mostra que também merecia umaoportun­idade ou faltou-lhe alguma paciência para esperar?

FC – Foi um pouco das duas situações. Na altura senti que merecia ser aposta pelo que estava a fazer na equipa B. Fui um dos poucos jogadores que se estreou na equipa B com a idade de júnior e realizei a maioria dos jogos nessa temporada. Por outro lado, penso que fiz a escolha certa. Nunca poderia adivinhar que um defesa-central iria lesionar-se e seria chamado um jogador da equipa principal [n.d.r. Lindelöf beneficiar­ia da lesão de Lisandro López]. Acabei por sair e ganhar experiênci­a na Liga, porque tinha jogado apenas na 2ª Liga. Ainda fiz uma boa época e meia no Paços de Ferreira. Existem caminhos diferentes para construir uma carreira e estou feliz pelo meu percurso. Acredito que vou conseguir chegar ao topo.

Uma das imagens da época do Santa Clara foi o golo que marcou ao Sp. Braga, que permitiu recuperar de uma desvantage­m de 0-3 em casa. Considera que esse momento foi fundamenta­l para a equipa acreditar no potencial?

FC – Não creio que tenha sido apenas por esse golo. A equipa sabia o trabalho que estava a realizar. Mesmo no primeiro jogo da época, com o Marítimo, estivemos bem. Acreditámo­s sempre no processo que estávamos a construir e o empate alcançado com o Sp. Braga foi importante. Sentíamos que, se tivéssemos mais cinco ou dez minutos, até poderíamos ter vencido. Acredito que esse momento foi um grito de revolta de toda a equipa. Ficou demonstrad­o que iríamos lutar sempre até ao último segundo, mesmo se os jogos não estivessem a correr bem.

No início do campeonato, o Santa Clara marcava muito mas também sofria muitos golos. O que mudou no processo defensivo para

essa situação ter conhecido uma mudança tão grande na segunda volta da Liga?

FC – Começámos o campeonato com muitos jogadores novos no plantel. Numa equipa, é necessário muito treino para se ter um bom processo defensivo. Os jogadores precisam de se conhecer e nós, com trabalho, fomos aperfeiçoa­ndo o nosso processo defensivo. No início do campeonato, mesmo quando sofríamos golos, sentíamos que estávamos no caminho certo. Agora estamos a sentir os frutos de todo esse trabalho que realizámos desde o início da temporada.

O treinador João Henriques já assumiu que o objetivo desta equipa passa por ficar na história do Santa Clara. Até onde podem chegar esta temporada?

FC – O plantel é muito ambicioso e essa é uma das caracterís­ticas que nos tem permitido apresentar a qualidade que temos apresentad­o este ano. Podíamos estar satisfeito­s com os pontos que já conquistám­os – porque a permanênci­a, apesar de não estar matematica­mente garantida, está praticamen­te conseguida – e relaxar até ao final do campeonato, mas queremos fazer os melhores resultados possíveis. Sabemos que isso vai valorizar o clube, mas também os jogadores. A Região dos Açores merece ter uma equipa na Liga. Neste momento faltam dois pontos para conseguirm­os a melhor pontuação da história do Santa Clara e estamos convictos de que vamos ficar na história do clube.

A nível individual, esta é a melhor época da sua carreira?

FC – Sim! Fiz sempre exibições muito regulares e consegui apre

“EXISTEM CAMINHOS DIFERENTES PARA CONSTRUIR UMA CARREIRA. ACREDITO QUE VOU CONSEGUIR CHEGAR AO TOPO” “FALTAM DOIS PONTOS PARA CONSEGUIRM­OS A MELHOR PONTUAÇÃO. VAMOS FICAR NA HISTÓRIA DO SANTA CLARA”

sentar um número elevado de golos marcados. Estou a sentir que me estou a afirmar e a melhorar em diversos aspetos do meu jogo, sobretudo na finalizaçã­o.

Com cinco golos marcados, é o defesa mais goleador na Liga e um dos que tem mais golos marcados no futebol europeu. Como analisa este registo?

FC – É sempre bom estar a par dessas notícias que comparam o número de golos marcados com os de futebolist­as como Sergio Ramos e Kolarov. É um motivo de orgulho, mas é importante não nos deslumbrar­mos. O futebol é o momento e tudo muda muito rapidament­e. Mais importante do que marcar golos é que a equipa consiga alcançar os objetivos. Desde muito cedo recebemos a mensagem de que se o grupo estivesse bem iríamos conseguir obter uma valorizaçã­o a nível individual.

O Santa Clara conseguiu valorizar o plantel esta temporada e colocou vários jogadores nas seleções nacionais. Com 24 anos, também ambiciona ser chamado à Seleção Nacional?

FC – É verdadeira­mente incrível que uma equipa como o Santa Clara, que subiu este ano à 1ª Liga, tenha conseguido colocar cinco jogadores em simultâneo nas seleções nacionais. Claro que também tenho a ambição de ser convocado para a Seleção Nacional. Ainda sou novo e estou a evoluir diariament­e, mas existe uma grande concorrênc­ia. Estão a surgir defesas-centrais cada vez mais novos e com qualidade. Mas sei que, se continuar neste campeonato, é algo que acontecerá naturalmen­te.

Como analisa os defesas-centrais que jogam na Seleção Nacional, nomeadamen­te Rúben Dias, com quem jogou no Benfica?

FC – Treinei várias vezes com o Rúben, que era chamado várias vezes, ainda como júnior, para trabalhar com a equipa B do Benfica. É um jogador com perfil de líder. É muito trabalhado­r e conseguiu afirmar-se no Benfica, o que nunca é fácil, jogando muito bem. O Pepe, apesar de a idade não passar por ele, apresenta-se muito bem. Agora a Seleção Nacional terá de continuar a renovar-se e o selecionad­or Fernando Santos já mostrou que não tem problemas em apostar em jogadores novos.

Esta temporada já recebeu alguma mensagem do selecionad­or nacional ou de um dirigente da Federação Portuguesa de Futebol?

FC – Não...

Mantém a ambição de chegar a um grande clube ou de viver uma nova aventura no estrangeir­o, depois de ter representa­do o Rangers, da Escócia, em 2017/18?

FC – Claro que sim! Quero jogar e penso que tenho capacidade para chegar a uma equipa de topo. Estou feliz pelo meu percurso e acredito que a experiênci­a que tenho adquirido será muito importante quando chegar a uma equipa grande.

Tem conhecimen­to de sondagens ou propostas de outras equipas, portuguesa­s ou estrangeir­as?

FC – Não recebi nenhuma sondagem. Na última época, quando ainda estava no Rangers, parti o nariz e joguei pouco nos últimos meses. Por isso, quando vim para o Santa Clara disse que queria ficar até ao final do campeonato. Preciso de jogar com consistênc­ia para evoluir.

Continuar nos Açores na próxima temporada é um cenário em aberto ou é pouco provável?

FC – O meu objetivo passa por dar o salto. Trabalho com essa ambição e tenho a ajuda das pessoas certas para tratar desses assuntos. Agora é altura de continuar a trabalhar e estar focado no Santa Clara. *

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