Fraude à lei
Nesta rábula dos amarelos oportunistas aos jogadores do Marítimo, que tanta celeuma tem provocado, deteto três momentos insólitos.
O primeiro é a desfaçatez com que os jogadores Edgar e Joel sacam os amarelos, assumindo ostensivamente condutas ilícitas que forçaram o árbitro à correspondente sanção disciplinar. Nem se deram ao trabalho de disfarçar.
O segundo é a candura com que Petit assume que provocou os amarelos para limpar cadastro, levando os jogadores a falhar o jogo com o Benfica.
O terceiro é a hipocrisia com que o presidente do Marítimo se justifica, alegando que no futebol não se pode ser transparente.
Qualquer estudante de direito conhece o instituto da fraude à lei, segundo o qual, por meios formalmente lícitos, se visa alcançar um fim ilícito, defraudando os propósitos do legislador. A amostragem dos cartões resulta do exercício de ação disciplinar do árbitro, diretamente decorrente das incidências do jogo, e não da gestão de treinadores e jogadores.
Este episódio ilustra bem o estado a que chegou o futebol português. Eu até posso compreender o Petit; afinal, que mal tem este subterfúgio menor, de chico-espertice, quando, por exemplo, o Benfica desafia diretamente a lei, com o apoio oculto às claques ilegais?
Só que a Petit parece não ocorrer que, ao retirar intencionalmente dois dos seus melhores jogadores do jogo contra o Benfica, está a enfraquecer a competitividade da equipa e, objetivamente, a falsear a verdade desportiva do resultado do jogo entre as duas equi
AO RETIRAR DOIS DOS SEUS MELHORES JOGADORES, [PETIT] ESTÁ A FALSEAR
pas. Com a agravante de ser antigo jogador do Benfica e parecer estar a fazer o frete.
Opresidente doMarítimo, esse então, tenho dificuldade em qualificar a sua conduta, quando exalta e branqueia um comportamento ilegal e o converte em alegada lisura genuína. E as dificuldades que sinto advêm do facto de a um dirigente máximo do clube ser exigível uma postura de compliance, palavra que a pessoa em causa aparenta desconhecer (o Gil Vicente, então, que o diga).
Os jogadores, esses, são os elos mais fracos e aqueles que têm maiores atenuantes, mas isso não os absolve de terem aceite ser cúmplices deste embuste e, como tal, põem-se a jeito.
Isto tem umnome: comportamento antidesportivo e prevaricação às claras. Tem a palavra a Federação.