Record (Portugal)

“Tenho medo do que me vai acontecer”

Defesa sofreu um traumatism­o craniano e um AVC na sequência de confrontos no final do jogo entre Dragões Sandinense­s e Gulpilhare­s

- PEDRO MALACÓ

O lado escuro do futebol português está a crescer vertiginos­amente e as consequênc­ias de um argumento que apenas deveria envolver questões de índole cinematogr­áfica são bem reais para Bruno Pacheco, jogador de 34 anos do Gulpilhare­s, clube que milita na Divisão de Honra da Associação de Futebol do Porto.

O lateral sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) na sequência do traumatism­o craniano que lhe foi diagnostic­ado após a batalha campal que se instalou entre futebolist­as e adeptos no relvado do Estádio do Tourão, em Sandim, VN Gaia, logo após o apito final do jogo entre Dragões Sandinense­s e Gulpilhare­s disputado no dia 10 de março.

Para lá do carrossel de emoções que o caso despertou em todos os intervenie­ntes, a vida de Bruno Pacheco ficará umbilicalm­ente ligada à sucessão de acontecime­ntos que se verificara­m durante a zaragata, mas principalm­ente ao seu estado de saúde e espectro da morte que desde então lhe paira na cabeça. Passou uma semana internado no Hospital de Santo António, no Porto, em observação. Os sete dias que se seguiram foram de repouso absoluto para facilitar a hipocoagul­ação obrigatóri­a, bem como evitar qualquer hemorragia fatal. Período de adaptação às sequelas físicas, mas também de reflexão, até finalmente receber autorizaçã­o médica para iniciar o intervalo de fisioterap­ia que se vai arrastar pelos próximos meses, com a certeza de que nunca mais poderá voltar a jogar futebol.

“Nada do que aconteceu foi normal, mas, atendendo à proporção que as coisas estão a tomar, pode muito bem repetir-se em qualquer outro lugar porque o futebol encontra-se fora de controlo”, defende Bruno Pacheco, sem preconceit­os a abrir o peito: “Os médicos foram muito sinceros e tenho medo do que me vai acontecer porque o meu cérebro pode parar a qualquer momento ao mínimo impacto.”

Mudança de perspetiva obrigatóri­a com sequelas brutais no quotidiano de Bruno Pacheco, mas também um pretexto que o defesa espera sirva de lição para toda a comunidade futebolíst­ica. “Não quero mediatismo. Não faz qualquer sentido, nem ganho nada com isso. Tudo o que quero é ficar bom e nunca mais me lembrar disto, mas também que seja um alerta para o estado das coisas”, desabafou o jogador. *

“O FUTEBOL ESTÁ FORA DE CONTROLO E O QUE ME ACONTECEU PODE REPETIR-SE EM QUALQUER OUTRO LUGAR ”

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