Os meninos à volta da fogueira
A QUALIDADE DO TRABALHO NA FORMAÇÃO NÃO SE MEDE PELOS TÍTULOS MAS PELA AFIRMAÇÃO GRADUAL DOS JOGADORES FORMADOS NO CLUBE NA EQUIPA PRINCIPAL. ALGO QUE NÃO RETIRA REFULGÊNCIA À CONQUISTA INÉDITA DO FC PORTO PARA PORTUGAL, EM ANO DE FASES FINAIS DE EUROPEUS (SUB-19 E SUB-17) E MUNDIAL (SUB-20)
precisamente cinco anos, antes da final da Youth League que opôs o Barcelona ao Benfica, Narcis Julià, então secretário-técnico dos culé, afirmou que bem mais importante do que a conquista do troféu era a evolução do processo de formação dos jogadores. Sem retirar um centímetro à importância do feito histórico caucionado pelos promissores dragõezinhos, claramente a equipa mais competente na abordagem à fase final da UEFA Youth League, o maior reflexo deste triunfo chegará com a afirmação gradual – e não obsessiva – dos meninos na equipa principal do FC Porto. Algo que o Barcelona, que bateu contundentemente os encarnados na final de 2014 por 3-0, não abichou, já que apenas Munir El Haddadi, entretanto transferido a título definitivo para o Sevilha, conquistou algum espaço na equipa principal dos blaugrana.
O papel da equipa técnica liderada por Mário Silva, antigo lateralesquerdo de FC Porto, Boavista e Nantes, a cumprir a sua sétima temporada ligado à formação dos dragões (quatro delas ao serviço do satélite Padroense), foi determinante para o êxito. Habituados a assumir um papel claramente dominador dentro de portas, em que passam grande parte dos jogos em ataque posicional, os portistas criaram um fato europeu que se moldou extremamente bem às necessidades da competição e às características dos rivais que foram ultrapassados – Schalke 04, Galatasaray, Lokomotiv Moscovo, Tottenham, Midtjylland, Hoffenheim e Chelsea – numa escalada notável.
Alémdacompetênciado processo defensivo, reforçado na fase final com uma maior proteção dos corredores laterais e por uma maior competência na defesa de bolas paradas laterais, houve um estudo pormenorizado dos adversários, que conduziu a importantes ajustes. Ante o Hoffenheim, estruturalmente organizado em 3x5x2, o FC Porto preocupou-se em condicionar alto a saída de bola do adversário, promovendo, em diversas situações, um 3x3, que criou amplas arduidades à primeira fase de construção dos alemães, retirando-lhes fluidez, como também, sempre que foi ultrapassado esse primeiro bloco, soube reorganizar-se em 5x4x1, com o muro Mor Ndiaye, jogador com uma vertente física e tática que agradará de sobremaneira a Sérgio Conceição, a posicionar-se entre os defesas-centrais Diogo Queirós – um capitão à FC Porto, uma espécie de ‘Bichozinho’ que até marcou um golo na final – e Diogo Leite. O objetivo passava por controlar a busca incessante do jogo exterior por parte do rival e, em simultâneo, obstruir qualquer brecha que pudesse surgir entre a linha defensiva e a linha intermediária. Na final, ante o Chelsea, estruturalmente organizado em 3x4x3, o FC Porto defendeu em 4x1x4x1, sempre com a preocupação de ser compacto e de nunca baixar excessivamente o seu bloco, promovendo, em diversas situações, o posicionamento mais alto dos médios-interiores Romário Baró e Fábio Vieira, de forma a bloquear a entrada de bola limpa em McEachran e Gilmour, os dois médios-centro dos londrinos.
Do ponto de vistaofensivo, os dragõezinhos foram particularmente contundentes na exploração de contra-ataques e de ataques rápidos, mostrando-se bem mais fortes no momento de transição do que em organização. Um reflexo da forma compacta e extremamente reativa como defendiam, que permitia metamorfosear cada recuperação numa chegada perigosa a zona de finalização, explorando a velocidade e a agressividade a atacar os espaços de Ángel Torres, João Mário, Fábio Silva e Romário Baró, grande figura da Youth League’2018/19, ao juntar quatro assistências a seis golos, sempre disponível para transportar o futebol de rua para o estádio. Algo que também avalizava uma tremenda mobilidade no último terço do terreno, e uma enorme variabilidade e imprevisibilidade na chegada a zonas de finalização.
O PAPEL DA EQUIPA TÉCNICA LIDERADA POR MÁRIO SILVA FOI DECISIVO PARA O ÊXITO PORTISTA