Record (Portugal)

Um penálti do tamanho da Torre dos Clérigos

CADA GOLO, CADA ASSISTÊNCI­A, CADA JOGADA MAIS OU MENOS MIRABOLANT­E DE JOÃO FÉLIX AO SERVIÇO DA EQUIPA PRINCIPAL DO BENFICA É UMA FACADA NO RIGOR CIENTÍFICO DA FORMAÇÃO DO FC PORTO, PROCLAMADO À PRESSA DEPOIS DO TRIUNFO NA UEFA YOUTH LEAGUE

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algum investigad­or de temas sociais perguntar a um adepto do Benfica ou do FC Porto ou do Sporting se prefere ver a sua equipa de sub-19 conquistar o título europeu do escalão ou se prefere ver a sua equipa principal ganhar o campeonato utilizando uma mão-cheia de miúdos provenient­es da formação da casa, a resposta será breve e fulminante: “O que a gente quer é o campeonato!” E se o mesmo investigad­or perguntar a qualquer adepto dos três grandes se prefere ser campeão nacional com jogadores contratado­s no exterior ou se prefere dispor de uma equipa com uma base de jovens feitos na casa, uma equipa capaz de dar luta mas incapaz de ganhar o campeonato, a resposta seria, uma vez mais, telegráfic­a e letal: “O que a gente quer é o campeonato!”

Vem esta conversa a propósito do título de campeã da Euro

pa de sub-19 conquistad­o pela equipa do FC Porto no início da semana e que deu azo a uma espécie de campeonato de ‘comparaçõe­s’ entre a formação do Benfica, do FC Porto e do Sporting e respetivos resultados práticos. Houve jogadores e responsáve­is do FC Porto, e também muitos comentador­es afetos ao emblema, que, embalados pela vitória sobre o Chelsea na final em Nyon, proclamara­m ser uma injustiça o fartote de palco mediático dado aos jogadores sub-19 do Benfica que, nestes últimos tempos, se afirmaram e se afirmam na equipa principal da Luz quando, afinal, é o FC Porto o triunfador da UEFA Youth League.

Sempre com o inimigo na mira, o próprio presidente do FC Porto aproveitou a boleia triunfal que lhe foi fornecida pelos seus sub-19 para, com juras de aposta na juventude, acalmar a dor dos adeptos portistas na semana em que viram o Benfica distanciar-se em dois curtos pontinhos no topo da tabela do campeonato. Disse Pinto da Costa, discursand­o para os seus juniores e para o país que, “depois da conversa com Sérgio Conceição”, não duvidava de que “a breve prazo alguns de vocês vão fazer parte dos quadros do FC Porto”. Não demorou a responder-lhe o treinador que, refreando o ímpeto do presidente, provou ser um homem de bom senso: “É preciso ter alguma calma”.

Conceição tem razão.

Se um investigad­or de temas sociais perguntass­e a um adepto do FC Porto se trocava o título dos sub-19 pelos três pontos em Vila do Conde na semana passada, a resposta seria um sonoro “já”. Tudo isto serve para concluir que cada golo de João Félix ao serviço da equipa principal do Benfica é uma facada no rigor científico da formação do FC Porto. Félix marca muito, dá muito a marcar e obriga os adversário­s a cometerem faltas atrás de faltas. No último domingo, em Braga, o primeiro golo do Benfica surgiu de uma grande penalidade assinalada depois de Esgaio ter derrubado Félix na área proibida. O lance não teve nada de ridículo. Foi apenas um penálti do tamanho da Torre dos Clérigos.

Não adormeças, Benfica.

SÉRGIO CONCEIÇÃO REFREOU OS ÍMPETOS DO PRESIDENTE DO FC PORTO

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Leonor Pinhão Jornalista

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