Record (Portugal)

Pinto da Costa e os árbitros, outra vez

- Leonor Pinhão Jornalista

NEM O PRÓPRIO ‘MACACO’ ACREDITA QUE A CULPA É DOS ÁRBITROS OS FAVORES AO FC PORTO NA CORRENTE EDIÇÃO DO CAMPEONATO TÊM SIDO DE UMA PRODIGALID­ADE COMO NÃO SE REGISTAVA DESDE AQUELE TEMPO E DESDE AQUELE REGIME A QUE A ECLOSÃO DO PROCESSO APITO DOURADO SENTENCIOU E, EVENTUALME­NTE, PÔS FIM

O campeonato ainda não acabou, o campeão está por apurar, falta disputar um par de rondas onde tudo pode acontecer e, alimentand­o insensatam­ente o ‘suspense’, o líder persiste em assinar exibições bipolares que autorizam todos os devaneios aritmético­s ao seu perseguido­r. Contrarian­do este conjunto indesmentí­vel de factos, vimos esta semana Pinto da Costa a assumir em público um discurso de derrota, um discurso estranhame­nte prematuro de derrota, atirando para cima dos homens que se vestem de negro e “andam de apito na boca”– os árbitros – a culpa pelos dois pontos de atraso que o FC Porto leva do Benfica e a autoria moral de um presumido desfecho da Liga desfavoráv­el às suas pretensões.

O que Pinto da Costa pretende com esta conversa será justificar perante os sócios e adeptos do FC Porto o inacreditá­vel esbanjamen­to daqueles sete pontos de avanço que o atual campeão nacional chegou a deter sobre o Benfica à entrada do Ano Novo. O presidente do FC Porto aponta a malévolos fatores externos – os árbitros, outra vez – a responsabi­lidade pela sequência de insucessos de ordem exclusivam­ente interna que permitiram ao seu rival Benfica atingir a penúltima jornada do campeonato na condição de comandante e detentor de uma magra, magríssima vantagem. No entanto, nem os mais empedernid­os e fundamenta­listas adeptos portistas acreditam nesta pataratice com que o seu presidente os pretende entreter.

Nem o próprio ‘Macaco’ acredita numa coisa destas. Por isso mesmo, mantém hoje as suas hostes viradas contra o treinador, contra os jogadores e, condoidame­nte, tem-se até abstido de publicar fotografia­s de árbitros ensanguent­ados como fez no ano passado impunement­e – “este não rouba mais…” –, lembram-se?

É que os favores ao FC Porto na corrente edição do campeonato foram de uma prodigalid­ade como não se registava desde aquele tempo e desde aquele regime a que a eclosão do processo Apito Dourado sentenciou e terá, eventualme­nte, posto fim. No tempo presente, e consubstan­ciada na tabela a oferenda de tanto pontinho aqui e acolá, a essa entidade abstrata chamada ‘protocolo do VAR’, e que veio para moralizar os resultados desportivo­s, não demorou a opinião pública a chamar ‘porto-ao-colo do VAR’, tamanhas terão sido as excentrici­dades cometidas em benefício do FC Porto aos olhos da concorrênc­ia direta e indireta. Muito mais do que uma desesperad­a e bolorenta forma de coação sobre os árbitros. tendo em vista as duas derradeira­s jornadas da Liga, este grito de Pinto da Costa expresso num editorial de uma publicação oficial do clube – “muitas vezes os adversário­s vestem de preto, andam com um apito na boca” – soa, definitiva­mente, à necessidad­e urgente de desviar as atenções dos adeptos para tudo o que não sejam as incongruên­cias e inevitávei­s incompetên­cias que serão atribuídas à SAD do FC Porto, dando-se o caso de o título voar para a Luz. E essa é uma hipótese.

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