Megafónico Herrera e os líderes no Dragão
O PODER DA CLAQUE, O PODER DA SAD E O PODER DO TREINADOR CHOCARAM DE UMA FORMA BRUTAL. CONCEIÇÃO RESISTIU PORQUE LEVOU COM ELE O ESPÍRITO ‘À PORTO’, MAS NESTE MOMENTO JÁ SE LEVANTAM OUTROS VALORES
Em Julho, depois da participação no Mundial e antes da préépoca do FC Porto, Herrera foi submetido a uma cirurgia às orelhas e ao nariz. Aquilo a que se denomina, em termos clínicos, de uma otoplastia e uma rinoplastia.
Só por brincadeira se poderia
pensar, considerando o valor de Herrera, que o FC Porto – por causa disso – iria perder corpo no meio-campo. Não eram, certamente, as orelhas de Herrera que faziam o mexicano voar no miolo dos campeões nacionais.
Três meses depois, porém, em Outubro, Pinto da Costa revelou que Hector Herrera pediu 6 M€ para renovar. Não sei o que dizem os médicos sobre a consolidação da cirurgia, mas se ele estava a jogar é porque se encontrava em condições de… ‘levar nas orelhas’. Pinto da Costa deu, forte, nas (novas) orelhas do mexicano e, perante a intervenção surpreendente do presidente portista, havia duas hipóteses a considerar: ou o médio do FC Porto ‘encostava’ (até renovar ou sair) ou, indiferentes às questões de discurso estratégico de Pinto da Costa, Herrera era ‘imposto’ por Sérgio Conceição no onze titular.
Ora, não apenas Herrera se afirmou no espaço dos nucleares como é neste momento o jogador com mais jogos realizados na época, a par do seu compatriota Corona, mas este com menos 820 minutos (!) de utilização. Herrera tornou-se, pois, esta temporada, um jogador ainda mais influente no FC Porto – já leva, neste momento, mais nove jogos realizados comparativamente a 2017/18.
O mexicano era, por estes motivos, protagonista no FC Porto, e no final do jogo com o Aves esse protagonismo alcançou uma nova dimensão, neste caso bem negativa, e ainda está por se apurar se esse protagonismo extra não tem a ver com as dinâmicas internas acima descritas.
O choque entre o poder da cla
que, o poder da SAD e o poder do treinador. Ou as dinâmicas que fizeram eclodir um maior poder em detrimento de outro(s), comprometendo, afinal, a liderança formal e inequívoca que se deveria fazer sentir, da SAD e do seu presidente para o treinador e do treinador para a SAD e para o seu presidente. Outras lideranças não deveriam ser para aqui chamadas, com ou sem megafone. São lideranças intermédias, com o seu peso específico, mas enquadradas naquilo que tem de ser o poder formal e inequívoco. Quando os choques acontecem com a dimensão do que se viu no final do jogo com o Aves, alguma coisa está errada. Profundamente errada.
OmegafónicoHerreranão deveria ter aparecido e a integridade do plantel perante a claque não deveria ter sido beliscada. É estranho que a SAD portista não tenha entendido isto, a menos que se tenha entrado num processo de desgaste da liderança de Sérgio Conceição.
É estranho que um jogador que está de saída e se recusou a renovar pelos números achados razoáveis pela SAD portista, tenha aparecido como uma espécie de oferecimento para sacrifício. O cordeiro oferecido a um deus maior. Ou uma despedida irónica. Ou uma representação meramente teatral, na insignificância que representam hoje em dia os compromissos. No calor das emoções, quem deveria ter a frieza necessária para proteger a grande instituição FC Porto de se expor ao ridículo – como aconteceu com a cena megafónica do capitão Herrera –, esconde-se. Um capitão que está de saída, que foi aliás criticado publicamente por Pinto da Costa, por causa dos valores por ele exigidos para a renovação (“pediu 6 M€ para renovar”), foi dizer aos elementos da claque, de megafone na mão, antes de fazer as malas e partir, que a equipa ia fazer tudo para ganhar os jogos até ao fim. Não se deu conta do ridículo de toda esta situação? Por que razão a equipa ‘não fez tudo’ para ganhar em Vila do Conde?!
O FC Porto atrasou-se. O FC Porto atrasou-se no processo de sucessão de Pinto da Costa. O FC Porto atrasou-se em fazer a sua Academia. O FC Porto atrasou-se na renovação dos contratos de certos jogadores nucleares como, por exemplo, Herrera e Brahimi. O FC Porto atrasou-se (por culpa própria) neste campeonato, depois de ter tido sete pontos de avanço. O FC Porto atrasou-se na aceitação e na compreensão do papel transformador do seu treinador, Sérgio Conceição, cujo envolvimento em tudo o que diz respeito à cabina o fez tornar-se numa espécie de arquitecto do antipenta, quebrando as dinâmicas ao Benfica.
O FC Porto tem revelado, apesar de tudo, uma grande resiliência, mas não ganhar este campeonato será um grande rombo não apenas nas estratégias mas também no espírito que Sérgio Conceição tinha recuperado para o FC Porto.
Este ‘casamento’ FC Porto-Sérgio Conceição, claramente em crise, mostra bem que as estruturas rapidamente se cansam de técnicos centralizadores, que desprezam as lideranças intermédias para se fixarem nas relações com os respectivos presidentes. E estes ou são implacáveis na cobertura ou a prazo os treinadores acabam por ser corroídos pela sensação de injustiça. E, quando isso acontece, é o fim.