JOAN VILÀ BOSCH BARÇA: SEM PASSADO NÃO HÁ FUTURO
Ex-diretor de metodologia dos catalães defende modelo de Cruyffe lamenta que o clube esteja a seguir outra filosofia
Joan Vilà Bosch tem 65 anos e dedicou grande parte deles ao Barcelona. Primeiro como jogador, nas camadas jovens e equipa principal, depois como treinador na formação e, mais tarde, como diretor de metodologia. O espanhol esteve em Portugal para dar uma formação e Record teve acesso a um dia dedicado ao futebol com base na experiência de um dos maiores clubes do mundo. ‘Uma ideia de jogo diferente’ foi o nome da formação e esse funcionou como o ponto de partida para a conversa com Joan Vilà Bosch. Diferente porquê? “Porque a diferença é que interpretamos que o futebol não é partido, defender e atacar, mas sim jogar. Significa ver o futebol com uns óculos diferentes. Esta ideia nasceu, principalmente, com Johan Cruyff e cresceu no Barcelona durante os anos. Futebol é futebol, mas esta ideia criativa, em que alguns momentos foi fantástica, é diferente”, defendeu o técnico. E tudo gira à volta da bola. “Cruyff disse algo que é a base de tudo: queremos ter a bola para jogar e desfrutar. E para jogar e desfrutar é importante que conheças o jogo. Seja um jogo de cartas ou dominó. Se não o entendes, não vais ficar bem, o que acontece a muitos jovens, que abandonam o futebol porque não o percebem. É preciso começar com os mais pequenos e dar-lhes a bola para que desfrutem. Não é ganhar nem darlhes na cabeça porque falharam um golo ou perderam um jogo. É educá-los e fazê-los crescer com a ideia de desfrutar jogando futebol. Cruyff trouxe esta ideia e eu e estou de acordo”, explicou.
Asaída do Barça
E foi, precisamente, por já não estar de acordo que Joan Vilà Bosch abandonou o Barcelona em 2018. “A minha discrepância com a ideia que tem esta direção desportiva do Barcelona é muito grande. Quando falamos deste conceito de jogo é fundamental trabalhá-lo diariamente. E para trabalhá-lo é preciso entendê-lo. E a direção do Barcelona não o entende em profundidade. Quem manda tem outra ideia de futebol e não com a que crescemos durante 30 anos. É uma ideia mais parecida a um futebol tradicional, semelhante ao de outras grandes equipas, mas não é o nosso modelo”, lamentou. Uma das grandes críticas de Joan Vilà Bosch é a perda de referências no passado recente. “Herdámos uma essência de grandes treinadores como Rinus Michels, Johan Cruyff e Pep Guardiola. Enquanto houver jogadores que sigam a filosofia, esta vai manter-se. Mas saíram Puyol, Xavi e Iniesta e o Barcelona depende muitíssimo de Messi, que pode jogar mais 3 ou 4 anos. Nestes momentos, deveria ser mais importante uma ideia e um modelo de jogo do que o próprio Messi. Atenção: Messi é irrepetível, o melhor jogador da história, mas é perigoso depender só dele porque pode ter uma lesão grave ou retirar-se. Há anos que não sobem jogadores à equipa principal do Barcelona e assim perdemos a oportunidade de dar continuidade a este modelo. E isso seria um erro”, atirou o experiente treinador espanhol. Além de Messi, Piqué, Busquets, Sergi Roberto e Aleñá também foram formados no Barcelona e fazem parte da equipa principal. Carles Aleñá, de 21 anos, é o caso mais recente, fixando-se no plantel para a época 2018/19. O jovem médio soma 24 jogos esta temporada , dez como aposta inicial de Ernesto Valverde. *
“SAÍRAM PUYOL, XAVI E INIESTA E O BARCELONA DEPENDE MUITÍSSIMO DE MESSI, QUE PODE JOGAR MAIS 3 OU 4 ANOS”