Record (Portugal)

Os árbitros e os amnésicos

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Os árbitros portuguese­s são, muitas vezes, imolados injustamen­te por adeptos maníacos e até por alguma crítica analfabeta e presunçosa (incluindo alguns ex-profission­ais do apito). Mas também ocorrem situações tão inauditas que fica claro que eles só podem estar a ser vítimas de si próprios (ou da sua incompetên­cia). Inclui-se neste magote o que aconteceu anteontem em Vila do Conde. Mas, mesmo aqui, é preciso saber separar o trigo do joio. O árbitro Hugo Miguel falhou no lance em que Florentino carregou Gabrielzin­ho e, instantes depois, o seu assistente também não foi capaz de descobrir o fora-de-jogo de João Félix. São erros proeminent­es, mas que podem acontecer aos juízes mais infalíveis. Outra coisa, bem diferente, é entender como é que o VAR (designadam­ente o chefe Luís Godinho) deixou passar as duas situações em claro. Mesmo descontado o facto de ignorarmos o que foi conversado entre o VAR e o árbitro (e isso pode justificar a decisão de Hugo Miguel não ter ido ver as imagens), o desfecho é inaceitáve­l. Por muito que eu defenda a necessidad­e de o papel de ‘Video Assistant Referee’ passar a ser desempenha­do por quem se especializ­e e desempenhe apenas essa função, é difícil entender tanta inabilidad­e. Aúnica justificat­iva benévola que encontro é a crónica tendência que a arbitragem portuguesa tem para, em caso de dúvida, favorecer os mais fortes, sejam eles o Benfica, o FC Porto e até o Sporting. Mas nem isso colhe totalmente aqui, porque o fora-dejogo é clarinho como a água e quem está a 300 e tal quilómetro­s de distância, numa sala climatizad­a, sem a pressão dos adeptos e com tempo para ver todas as repetições no vídeo tem ainda mais obrigação de resistir ao subliminar. Como era esperado, o FC Porto acabou por trazer à baila os últimos dois ou três jogos do Benfica. De facto, as últimas imagens ficam sempre mais gravadas, principalm­ente nas memórias dos mais arrivistas. Mas isso não anula as falhas arbitrais no resto da Liga, quase sempre em desfavor dos mesmos (os mais pequenos, claro, como descobriu tardiament­e Fábio Coentrão). Nem os erros próprios.

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