Record (Portugal)

Errou. E agora?

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Hugo Miguel errou na avaliação que fez de um lance aparenteme­nte óbvio (errou noutros lances e errou para ambos os lados, mas o que interessa neste momento é fazer barulho por causa desse erro em particular). O Luís Godinho, como VAR, errou ao não intervir como poderia/deveria ter feito para ajudar a evitar um erro claro e óbvio. O lance em causa terá tido um peso importante no jogo em causa e, até, na decisão do campeonato. Esta é a minha opinião. É a opinião da quase maioria dos agentes da arbitragem e é, até, a opinião da quase maioria dos adeptos de futebol, independen­temente da cor clubística.

E agora? Agora, e até ao próximo sábado onde ainda tudo poderá mudar, o Benfica diz que não fala de arbitragem e põe o mérito do primeiro lugar no trabalho do treinador e dos seus jogadores, esquecendo as muitas vezes que foi beneficiad­o por decisões de arbitragem ao longo da Liga. Agora, e não começou apenas após este último jogo, o FC Porto usa todo o poder de fogo junto da comunicaçã­o social para culpar dois ou três árbitros pelo seu insucesso desportivo. Mais grave, muito grave, não aponta apenas os erros desses árbitros, mas vem lançar suspeitas sobre a honestidad­e e seriedade dos mesmos. Esquecem-se dos erros que também eles cometeram e que lhes valeram a perda de pontos. E esquecem-se das vezes em que também eles foram beneficiad­os por decisões de arbitragem.

E depois? Daqui a alguns anos vamos recordar que esta Liga terá sido ganha pelo Benfica (no condiciona­l porque ainda tudo pode acontecer) por causa do lance do Hugo Miguel e do empurrão do Florentino. Tal como nos lembramos do campeonato que o FC Porto ganhou, em que a bola entrou ou não entrou num remate do Petit para a baliza do Vítor Baía. Tal como nos podemos lembrar de outras provas que ficaram marcadas por erros de árbitros. O futebol é assim desde que existe. É, mas será cada vez menos. Hoje em dia, as decisões (erros) de arbitragem têm peso menor, quase nulo, nas decisões de jogos e títulos. É a realidade. Uma falha do árbitro e do VAR, por muito gritante que seja, não pode apagar o facto de vivermos num futebol cada vez mais limpo de erros decisivos. Discutam o lance do Rio Ave-Benfica. Discutam-no até à exaustão. O Benfica que faça de conta que não aconteceu. O FC Porto que o use para justificar todos os seus insucessos. Mas um alerta para estes e outros clubes: erros destes tendem a acabar. Comecem, por isso, rapidament­e a procurar e testar novas e inovadoras desculpas. Para terminar, e porque para mim o futebol é só futebol, quero aqui deixar uma palavra de apoio e solidaried­ade a um colega com quem durante tantos anos treinei e convivi. Um colega que, por não gostar de errar, deverá estar a viver uma das mais duras semanas da carreira e da vida. Hugo, infelizmen­te para mim, nunca cheguei a um patamar na arbitragem em que sofresse este tipo de ataques, por isso não sei como se ultrapassa um momento destes. Espero que tu saibas. Vais voltar mais forte. Um abraço! *

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EM FOCO. Florentino acabou por estar em destaque no encontro com o Rio Ave devido ao contacto no lance do segundo golo do Benfica em Vila do Conde. Por isso mesmo, Hugo Miguel está a receber duras críticas

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