Record (Portugal)

LITO VIDIGAL “Sou pouco sociável”

Aos 49 anos, lembra que quando começou, como treinador, sabia que teria de ir para a 3.ª Divisão por não ter contactos. Está vinculado ao Boavista até 2020, quer ficar, mas não abdica de ser ambicioso

- VÍTOR PINTO

Estando outra vez emfoco, no Boavista, acredita que vai a tempo de quebrar o teto de vidro que o impede de voar mais alto?

LITO VIDIGAL – Esta é uma profissão dura, e que além de ser muito teórica continua a ser essencialm­ente prática. Não quero queimar etapas. Os anos de experiênci­a são uma grande mais-valia. A prática vale mais do que a teoria. Sei onde vou chegar e o que tenho de fazer. Agarro todas as oportunida­des com unhas e dentes. Estou cá, constantem­ente, até que alguém queira tomar outras decisões. Essa crença está fortalecid­a? LV – Temos de acreditar muito naquilo que queremos, mas as coisas não acontecem quando nós queremos. Temos de ter força mental

“TIVE DE COMEÇAR POR BAIXO NO CLUBE DA MINHA TERRA. DEI DEZ ANOS PARA CHEGAR À 1ª LIGA. CONSEGUI EM CINCO...”

suficiente para saber que temos o dia e também temos a noite. Temos a maré-alta mas também a maré baixa. É preciso encontrar um equilíbrio. Comecei a treinar na 3ª Divisão e sabia que seria assim, até pela minha forma de estar. Eu sou pouco sociável...

Essa descrição é rigorosa?

LV – É verdade. Sabia que não ia ter contactos para começar num patamar mais elevado. Teria de começar na 3ª Divisão e na minha terra, em Elvas. Sabia que teria de ser assim. De qualquer forma, isso não me impediu de traçar objetivos e determinar que passados dez anos queria estar a treinar na 1ª Liga se sentisse que tinha jeito para a função. Consegui isso em cinco anos, em metade do tempo. Depois de estar na 1ª Liga, queria orientar uma equipa que me permitisse ir às competiçõe­s europeias e queria treinar uma seleção. Também sabia que ia treinar Angola, mas pensava que seria numa fase posterior da carreira. Por isso digo que queremos as coisas mas elas não acontecem no momento em que achamos que devem ocorrer. Só depois disso cheguei à Liga Europa e com o Arouca, que ninguém acreditava que fosse possível. Falta outro objetivo. Falta ser campeão nacional. Em Portugal?

LV – Sim, sim sim... quero ser campeão em Portugal. Estabelece­u umprazo de tempo para atingir essa meta? LV – Aí não coloco um prazo. Sabemos o que é preciso para ser campeão em Portugal. Por vezes acontecem umas coisas que fizeram, por exemplo, o Boavista chegar ao título. O Belenenses também o conseguiu no passado. Depois temos o Benfica e o FC Porto, e de vez em quando o Sporting também consegue ser campeão. Para chegar lá com mais facilidade só treinando FC Porto ou Benfica, depois o Sporting ou... o Boavista.

Já agora, como é que essa sua pouca sociabilid­ade se reflete na gestão do balneário?

LV – Para mim é simples: sou sempre verdadeiro. A verdade tem de estar sempre presente. Por muito que por vezes custe dizê-la, e a alguns ouvi-la, mas acho que é sempre melhor falarmos verdade. Poupamos muito tempo. É assim que atuo. As minhas relações têm de ser marcadas pela verdade.

Em algumas alturas acaba por ser uma terapia de choque ser assim tão direto com os jogadores? LV – Mesmo como jogador sempre fui assim, muito verdadeiro com os treinadore­s. Por vezes criam-se anticorpos, mas o tempo acaba por confirmar que a palavra, sendo genuína, acaba por limar as arestas. Sendo assim, as relações mantêmse no tempo. Prefiro ter relações boas em qualidade, mesmo não sendo muito grandes em número. Sou fiel a mim próprio. *

“JÁ TREINEI A SELEÇÃO DE ANGOLA E CHEGUEI À LIGA EUROPA PELO AROUCA. FALTAME SER CAMPEÃO NACIONAL”

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