Carta aberta a Sérgio Conceição
NÃO SEI SE VALE A PENA O DEBATE INTERNO. OS ÚLTIMOS DIAS FORAM MUITO FEIOS. SERVISTE PARA TAPAR UM GRANDE BURACO. E NINGUÉM SERVIU PARA TAPAR O BURAQUINHO QUE TU FIZESTE COM OS TEUS ERROS
ditas –, imaginamos, também, que as pessoas à nossa volta acabam por reconhecer o empenho, a determinação e a permanente busca de soluções. Às vezes, isso acontece, mas acontece menos do que aquilo que desejamos. É a vida.
Naminhacondiçãodeobservador, todaavidaaolhar para as especificidades do futebol, há uma coisa que identifica a capacidade dos treinadores. Quando os jogadores jogam como vocês querem. Quando as equipas são uma extensão da personalidade, do carácter e das vossas ideias. Parece fácil, mas dá muito trabalho. Porque é preciso gerir questões técnicas e emocionais, de um grupo alargado de gente distinta, com as suas diferenças, de nacionalidades, de temperamento, de dependências e de influências externas, dos empresários e de quem não faz mais nada senão explorar as fragilidades dos jogadores.
Saber liderar não é fácil. Eu vi, em quase todos os jogos, o FC Porto a jogar como tu querias, eu vi a equipa a ser o reflexo da tua personalidade, da tua forma (séria) de ver o futebol. Houve, contudo, alguns jogos em que o teu controlo sobre a equipa não foi total e dou-te dois exemplos: no Dragão, com o Benfica, e em Vila do Conde, com o Rio Ave, mais recentemente. Dois momentos importantes, com respostas incompletas e até bizarras. Em que buraco se meteu o ADN do FC Porto?
Compreendo, no entanto, atua reacção àreacção das claques. Mas aí fazes parte de um filme em que não és o realizador. Fizeste parte do filme, como actor secundário. As claques não podem ser mais do que adeptos que estão disponíveis para apoiar as equipas. Nos bons e maus momentos. Não podem ser nem juízes nem carrascos. E se, às vezes, se comportam como tal, é porque o consentem. A força (abusiva) das claques expõe a fragilidade das estruturas. E disso não tens culpa. O incidente protagonizado com um adepto, no jogo de juniores com o Benfica, e envolver o teu filho Rodrigo, também não ajuda à ideia de que o a estrutura está com o Sérgio Conceição e o Sérgio Conceição está com a estrutura. Há uma coisa que o futebol nos ensina: entre treinadoresfortes e presidentes-fortes não deve haver quem meta a colher. Mas há, como ambos sabemos, muitos a fazê-lo. Que se fazem de mortos durante parte das temporadas mas que se portam como abutres ou como hienas quando farejam o sangue que jorra de uma ferida aberta. Há sempre que contar com eles. E creio que esse pode ser um dos temas que gostarias de tratar com Pinto da Costa. Não sei se vale a pena esse debate. Já sabes do que ‘eles’ são capazes. Os últimos dias foram muito feios. Serviste para tapar um grande buraco. E ninguém serviu para tapar o buraquinho que tu fizeste com os teus erros.