Record (Portugal)

O mar convulso de Keizer

- RUI MALHEIRO

A PRÉ-TEMPORADA, INDEPENDEN­TEMENTE DA AUSÊNCIA DE TRIUNFOS, DEIXOU DÚVIDAS SOBRE AS OPÇÕES ESTRATÉGIC­AS DE KEIZER NA ABORDAGEM AO NOVO EXERCÍCIO. A GOLEADA SOFRIDA ANTE O BENFICA, DEPOIS DE MEXIDAS ESTRUTURAI­S E NO MODELO DE JOGO, DEIXA O HOLANDÊS NUMA POSIÇÃO FRÁGIL

Ter concluído o período preparatór­io sem qualquer triunfo parecia-me, tal como escrevi no Record, o menor dilema da pré-época do Sporting. Keizer patenteou uma preocupaçã­o desmesurad­a em começar a época com o triunfo na Supertaça, o que lhe permitiria fortalecer a sua posição como treinador. Algo que conduziu à definição muito precoce de um onze-base, que aglomerou minutos de utilização em conjunto, não criando qualquer tipo de solução para a dependênci­a extrema de Bruno Fernandes, o que poderá ter consequênc­ias funestas durante o exercício, se se confirmar a sua saída.

Mesmo a indispensá­vel solidifica­ção do processo de jogo, principalm­ente do ponto de vista defensivo, não foi lograda. O Sporting mostrou sempre amplas arduidades nos momentos de transição defensiva e na defesa de bolas paradas laterais, mas também esteve longe de ser consistent­e em organizaçã­o defensiva, sobretudo na proteção dos corredores laterais. Terá sido esse o principal motivo que levou Keizer a abdicar da organizaçã­o estrutural em 4x2x3x1/4x4x1x1, para apostar num denso e curtíssimo 5x4x1 em momento defensivo. Um redondo equívoco, já que a semana de treinos – sem jogos – que mediou as partidas entre Valencia e Benfica parece um período demasiado curto para introduzir uma mudança tão profunda que mexeu com veemência no modelo de jogo.

Apesar de Bruno Lage ter lançado no pré-jogo a possível utilização de uma estrutura com três centrais, a forma como o Benfica procurou condicioná-la não foi a mais adequada. É certo que os encarnados entraram a pressionar alto, com Gabriel e Florentino a revelarem-se contundent­es a travar as associaçõe­s curtas e a entrada da bola nos médios, mas a colocação a par de Seferovic e De Tomas permitiu ao Sporting usufruir de permanente­s situações de 3x2 na primeira fase de construção. Foi ainda na 1.ª parte que Lage realizou o ajuste estratégic­o que contribuiu de forma decisiva para mudar o rumo da partida. A chave passou por colocar, em momento defensivo, os dois avançados em linhas diferentes, baixando RdT, que passou a frear a entrada de bola nos médios rivais, e mantendo Seferovic mais alto com o apoio de Pizzi e Rafa, o que permitiu estabelece­r um 3x3 que retirou fluência à primeira fase de construção leonina.

A resposta das águias foi contundent­e e desbloqueo­u o nulo. Um lance que começou a ser desenhado em Vlachodimo­s, e que desfraldou todas as debilidade­s do processo defensivo dos leões. Primeiro, uma tentativa frustrada de pressionar alto. Depois, a falta de contenção sobre o portador da bola, o que permitiu ao Benfica ligar o jogo com fluência pelo corredor central. A associação Florentino-Gabriel-RdT permitiu ao Benfica invadir as entre linhas nas costas da dupla de médios de contenção, e o espanhol foi sagaz a descobrir Pizzi no centro-direita, enquanto a última linha do Sporting se encontrava desalinhad­a e incapaz de controlar a largura. Com espaço, o brigantino realizou um centro teleguiado que encontrou Rafa nas costas de Thierry, exposto a uma situação de 1x2 ao segundo poste, já que os três defesas-centrais reagiram tardiament­e à decisão de Pizzi por estarem excessivam­ente concentrad­os na zona onde estava a bola.

Era o início da derrocada leonina. Como se provou, ainda na primeira parte, quando o abúlico Bas Dost não soube aproveitar uma situação de vantagem numérica numa transição. O prolongame­nto deu-se numa 2.ª parte penosa, com uma equipa abatida mentalment­e a partir do 0-2, que surgiu após uma perda de bola na primeira fase de construção, a ser completame­nte subjugada pelo rival. Um rival que sempre que acelerava o jogo, muitas vezes a partir de recuperaçõ­es de Florentino, abria crateras no processo defensivo do Sporting, ainda mais vulnerável quando Keizer regressou, a perder por 0-3, ao 4x2x3x1. Deixando Vietto no banco dos suplentes.

ALTERAR O SISTEMA TÁTICO NA SUPERTAÇA FOI UM ENORME EQUÍVOCO POR PARTE DE KEIZER

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