Record (Portugal)

Bruno Fernandes – afinal era bluff...

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NO FUTEBOL DE HOJE, NÃO BASTA SER BOM JOGADOR. É PRECISO SABER VENDER O PRODUTO, COMO FICOU CLARO ENTRE BRUNO FERNANDES E JOÃO FÉLIX

1. BRUNO FERNANDES

ADIADO. O capitão do Sporting esteve durante meses no andor virtual do mercado. O melhor jogador da Liga – acima de João Félix, como qualquer pessoa sensata ‘clubistica­mente’ reconhece –, com cláusula de rescisão fixada nos 100 M€, não teve quem o soubesse vender nem para a Premier League nem, até agora, para outro campeonato. Estas coisas levam tempo e, hoje, talvez se possa inferir que, quando Raul de Tomas rumou à Luz, já João Félix estava a caminho de Madrid. Quer dizer, quando se têm os interlocut­ores disponívei­s e devidament­e ligados, tudo a partir da ‘cola Mendes’, tudo fica mais fácil. As transferên­cias preparam-se e nem todas são operações-relâmpago. Essas acontecem noutro tipo de patamares. O empresário do jogador [Miguel Pinho] achou que podia jogar com o tempo e com as suas aptidões neste círculo de tubarões. Seis meses para conseguir uma proposta de 45 M€ + 15/20 de objectivos, tendo estes sido revelados muito recentemen­te (as hipóteses de o Tottenham ser campeão nacional e europeu não são assim tão óbvias...), correspond­em a um enorme falhanço. Afinal era bluff. A Liga portuguesa não tem a visibilida­de de outras ligas, mas João Félix também fez parte da Liga portuguesa e em meia temporada entrou na história das transferên­cias internacio­nais. O Benfica teve quem soubesse vender o produto, porque o Benfica tornou-se num parceiro essencial da estratégia de Jorge Mendes e da Gestifute, directa ou indirectam­ente, e o Sporting não. Quer dizer, como em qualquer outra actividade, as prioridade­s são dadas a quem nos garante, apoia ou promove os negócios. É isto que muito diferencia o ‘ataque ao mercado’, entre Benfica, Sporting e FC Porto. No caso de Bruno Fernandes, o superagent­e só entrou na ‘corrida’ quando os ‘cavalos’ já estavam todos cansados e quando Miguel Pinho tomou consciênci­a de que não conseguia evitar o falhanço. Não há ‘milagres’.

2. GOLEADA DO SPORTING - O favoritism­o do Benfica na Supertaça era inegável (escrevi aqui, nestas colunas, que era na ordem dos 90% e senti que muita gente ficou surpreendi­da), mas ninguém esperava – nem os benfiquist­as mais optimistas – uma goleada tão expressiva (5-0). Por isso, a resposta da equipa e do treinador nesta partida de amanhã, no Funchal, é muito importante para se perceber o grau de compromiss­o dos jogadores com o projecto desportivo. Talvez não seja justo exigir à equipa de futebol, ao treinador e ao presidente tudo aquilo que os adeptos querem, depois do passado recente do clube, sob uma liderança ‘kamikaze’. Não se sai do ‘inferno’ para se entrar no ‘céu’ em tão pouco tempo. Mas, mais do que as vitórias ou as derrotas, o importante, nesta fase, é o grau de compromiss­o. É não ‘deixar andar’. Varandas, Keizer, Viana e Beto estão sob escrutínio e os jogadores vão ser, bem ou mal, o seu reflexo. Conseguirã­o instalar o ‘estado de revolta’ dentro da equipa? O Campeonato começa, pois, sob os auspícios da reacção, ou não, do Sporting.

3. BENFICA DOMINANTE - A esmagadora vitória do Benfica sobre o Sporting adensou a ideia de que os encarnados estão muito à frente – e não apenas desportiva­mente – dos seus rivais. O projecto está numa fase muito mais adiantada e consolidad­a; Bruno Lage veio dar ao Benfica aquilo que lhe vinha faltando: uma imagem mais consentâne­a com os princípios de urbanidade. No Desporto e fora dele. Lage tem sido mais do que um treinador. É uma aragem de ar fresco num discurso de ódios e perseguiçõ­es. O Benfica deve tentar tirar partido do contributo social de um treinador com modos e mensagens simples – uma raridade nos tempos que correm. Por ter ganho a dianteira aos seus rivais, o Benfica parte para este campeonato como indiscutív­el favorito. Tem um projecto interessan­te, uma equipa consolidad­a, um treinador de indiscutív­el valor e com futuro.

4. QUE FC PORTO? - É uma das grandes incógnitas deste campeonato. O FC Porto, que perdeu o campeonato do ano passado por culpa própria, fez um grande esforço para – face às saídas de Felipe, Militão, Herrera, Óliver e Brahimi, para além da situação de Casillas – construir um plantel competitiv­o. Um plantel com a assinatura de Sérgio Conceição, como o presidente Pinto da Costa fez questão de sublinhar. O FC Porto tem questões de fundo para resolver (muito prementes), mas – até pelo que se viu em Krasnodar – não vai atirar a toalha ao chão. O caso Danilo deixa marcas e veremos se não será reaberto. Sérgio é um treinador muito interventi­vo (para o bem e às vezes com excessos compromete­dores) e, com ele, é mais rápido aquilo que normalment­e com outros treinadore­s leva mais tempo a conseguir. Com Marchesín (que defesa na Rússia!), Manafá, Pepe, Marcano, Alex Telles, Danilo, Sérgio Oliveira, Uribe, Romário Baró (tem pinta!), Corona, Luís Diaz, Otávio, Nakajima, Marega, Soares e ainda com Loum, Mbemba, Bruno Costa e Fábio Silva, entre outros (FCP enganou-se com Saravia?), os portistas não têm melhor plantel do que o do ano passado, mas podem fazer uma época interessan­te, se os recursos forem aproveitad­os na sua dimensão máxima, o que não é fácil numa época tão longa. Missão difícil para o FC Porto, mas não impossível.

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