“Nunca desisti nem fraquejei”
ANDRÉ GOMES CHAMADO PARA LUGAR DE WILLIAM
Que significado atribui a esta chamada à Seleção Nacional?
RÚBEN SEMEDO – É um momento grande da minha carreira. Como qualquer jogador, tinha uma vontade muito grande em representar a Seleção e é para mim um orgulho estar entre tantos grandes jogadores. Por exemplo, é um privilégio treinar-me com o melhor do Mundo, o que encaro como prémio pelo trabalho no meu atual clube, o Olympiacos, e por toda a dedicação que revelei nas etapas anteriores.
Essa felicidade é maior ainda considerando o que, entretanto, se passou na sua vida?
RS – Claro. Vir à Seleção era um sonho de sempre e hoje, depois daquele mau bocado por que passei, acredito que desfruto ainda mais deste momento. Como disse, estou a cumprir um sonho e não tenho palavras para expressar a felicidade que estou a sentir.
Como tem sido viver os treinos ao lado de Cristiano Ronaldo?
RS – É o melhor jogador do Mundo e qualquer futebolista gostaria de estar ao lado dele, na Seleção ou mesmo no clube. A experiência que tenho vivido, nestes dias, está a ser impressionante e inesquecível. Tem sido magnífico. Aquilo que nos transmite e o que podemos aprender com ele tem um valor incalculável. Em absoluto, é uma dádiva que esteja ali, ao nosso lado, a treinar ou a jogar.
Foi recebido de braços abertos por toda a gente?
RS – Em absoluto. E isso aconteceu desde o início dos trabalhos, por todo o grupo, incluindo a equipa técnica, dirigentes e todo o pessoal. Fui recebido como alguém que ali chega pela primeira vez e se sente querido. Estou, de facto, muito feliz. Sinto-me em casa.
Quando ultrapassou a fase mais complicada, acreditou que, em tão pouco tempo, atingiria o topo?
RS – A resposta para essa questão está na força que tive para não desistir. Confio muito nas minhas capacidades e nas pessoas que estão comigo. Nesse sentido, tive uma grande ajuda da família, amigos e dos clubes que me receberam, embora o fundamental é ter confiança no meu trabalho, no que faço e acreditar nas minhas qualidades. Sabia que não ia ser fácil, muito menos depois do que aconteceu, mas nunca desisti e continuo a pensar que posso atingir outros patamares.
Esta etapa no Olympiacos está a correr muito bem. Era previsível, para si, que corresse tão bem?
RS – Numa das conversas que tive agora com o Cristiano, ele confidenciou-me que não esperava que eu desse a volta por cima tão depressa. E eu concordei com ele, porque aconteceu tudo muito rápido. Mas há razões para isto: trabalhei para ter essa sorte e as oportunidades que se me depararam. Isto é, ainda, a prova de que, com esforço, foco e obstinação, podemos atingir os objetivos a que nos propomos. Nunca desisti ou fraquejei, mas longe de mim pensar que atingiria esta evidência tão depressa.
Pode dizer-se que a situação excedeu as suas melhores expectativas?
RS – Excedeu as melhores expectativas pelo que consegui oferecer às equipas de que fiz parte. Estava nos meus horizontes jogar na Champions e marcar golos na mais importante competição de clubes da Europa, mas não era suposto que acontecesse agora. O ambiente que me rodeia também me favorece, a começar no apoio do treinador (Pedro Martins) e dos meus companheiros, que me têm ajudado em tudo. E quando sentimos esse carinho, é mais fácil expressar o potencial que possuímos. Tudo isso contribui para este bom momento da carreira.
“NUNCA DESISTI OU FRAQUEJEI, MAS LONGE DE MIM PENSAR QUE ATINGIRIA ESTA EVIDÊNCIA TÃO DEPRESSA”
“CRISTIANO CONFIDENCIOU-ME QUE NÃO ESPERAVA QUE EU DESSE A VOLTA POR CIMA TÃO DEPRESSA. E EU CONCORDEI COM ELE”
Como reagiu no momento de saber que estava convocado para a Seleção?
RS – Para já, um dia antes já não conseguia dormir. Tinha esperança, mas estava muito ansioso.
Já sabia que estava pré-convocado…
RS – Sim, é verdade, por isso tinha consciência de que era possível vir. Não era fácil, depois de uma espera tão longa, estar a um pequeno passo de atingir aquele que era um grande objetivo de vida. Foi difícil de assimilar, porque foi uma sensação incrível estar entre os melhores de Portugal, entre futebolistas que integram os quadros de grandes equipas mundiais. Sinto-me especial por partilhar com eles esse espaço.
Apesar da sua juventude, já tem um passado no futebol. Este momento é o mais feliz da carreira?
RS – Se não o mais feliz, certamente um dos mais felizes. Era um sonho que perseguia há algum tempo, que poderia ter chegado mais cedo ou não, é indiferente, e que era comum à minha família e a toda uma comunidade a que estou ligado desde a infância – as pessoas de bairro que me apoiam e sentem as minhas vitórias e as minhas derrotas. É uma conquista nossa: minha e de todos eles.
Esses nunca deixaram de o apoiar, nunca o deixaram só…
RS – Nunca. Sempre se apoiaram e continuam a fazê-lo. A família é o meu pilar. Esta vitória é de todos nós e eu sinto-me duplamente contente por esta oportunidade.
Olhando para trás, acredita que a chegada à Seleção já podia ter acontecido antes? Afinal, chegou a ser titular do Sporting, por exemplo…
RS – Todos aqueles que trabalham bem, em bons clubes, e são de alguma forma reconhecidos, acreditam que podem chegar ao topo. Se fosse mais cedo, seria bom; sendo agora, é melhor ainda. O meu espírito não muda: estou aqui para ajudar, dando o melhor de mim próprio.
A esta distância, acredita que o Villarreal foi a melhor opção para a sua carreira?
RS – Continuo a pensar que sim. A questão não foi o Villarreal mas nas opções que tomei na minha vida pessoal, e essas é que não me permitiram dar o seguimento à carreira que devia. Não me arrependo da decisão que tomei, porque o Villarreal é um grande clube, que podia dar-me a projeção de que precisava, mas não correu bem. Paciência. Bola para a frente e a vida continua.
Sentiu, nos estádios espanhóis, a hostilidade das pessoas relativamente ao que lhe tinha sucedido?
RS – Não é preciso ir tão longe. Em Espanha, quando saía à rua em Huesca ou em Saragoça, quando ia ao centro comercial, já tinha o rótulo de delinquente, e isso, mesmo irrelevante para mim, influía no meu estado de espírito. Ia para casa e não me saía da cabeça o que ouvia, o que, mesmo inconscientemente, tinha influência no meu rendimento como profissional. Foi essa tranquilidade que encontrei em Portugal, onde me senti, como sempre imaginei, em casa. Os comentários foram sempre amigáveis, que estava de volta e acreditavam em mim. E foi isso que fez com que desse o melhor de mim em campo.
“É UMA SENSAÇÃO INCRÍVEL ESTAR ENTRE OS MELHORES DE PORTUGAL. SINTO-ME ESPECIAL POR PARTILHAR ESTE ESPAÇO”