Record (Portugal)

“Nunca desisti nem fraquejei”

ANDRÉ GOMES CHAMADO PARA LUGAR DE WILLIAM

- TEXTOS RUI DIAS FOTOS MIGUEL BARREIRA

Que significad­o atribui a esta chamada à Seleção Nacional?

RÚBEN SEMEDO – É um momento grande da minha carreira. Como qualquer jogador, tinha uma vontade muito grande em representa­r a Seleção e é para mim um orgulho estar entre tantos grandes jogadores. Por exemplo, é um privilégio treinar-me com o melhor do Mundo, o que encaro como prémio pelo trabalho no meu atual clube, o Olympiacos, e por toda a dedicação que revelei nas etapas anteriores.

Essa felicidade é maior ainda consideran­do o que, entretanto, se passou na sua vida?

RS – Claro. Vir à Seleção era um sonho de sempre e hoje, depois daquele mau bocado por que passei, acredito que desfruto ainda mais deste momento. Como disse, estou a cumprir um sonho e não tenho palavras para expressar a felicidade que estou a sentir.

Como tem sido viver os treinos ao lado de Cristiano Ronaldo?

RS – É o melhor jogador do Mundo e qualquer futebolist­a gostaria de estar ao lado dele, na Seleção ou mesmo no clube. A experiênci­a que tenho vivido, nestes dias, está a ser impression­ante e inesquecív­el. Tem sido magnífico. Aquilo que nos transmite e o que podemos aprender com ele tem um valor incalculáv­el. Em absoluto, é uma dádiva que esteja ali, ao nosso lado, a treinar ou a jogar.

Foi recebido de braços abertos por toda a gente?

RS – Em absoluto. E isso aconteceu desde o início dos trabalhos, por todo o grupo, incluindo a equipa técnica, dirigentes e todo o pessoal. Fui recebido como alguém que ali chega pela primeira vez e se sente querido. Estou, de facto, muito feliz. Sinto-me em casa.

Quando ultrapasso­u a fase mais complicada, acreditou que, em tão pouco tempo, atingiria o topo?

RS – A resposta para essa questão está na força que tive para não desistir. Confio muito nas minhas capacidade­s e nas pessoas que estão comigo. Nesse sentido, tive uma grande ajuda da família, amigos e dos clubes que me receberam, embora o fundamenta­l é ter confiança no meu trabalho, no que faço e acreditar nas minhas qualidades. Sabia que não ia ser fácil, muito menos depois do que aconteceu, mas nunca desisti e continuo a pensar que posso atingir outros patamares.

Esta etapa no Olympiacos está a correr muito bem. Era previsível, para si, que corresse tão bem?

RS – Numa das conversas que tive agora com o Cristiano, ele confidenci­ou-me que não esperava que eu desse a volta por cima tão depressa. E eu concordei com ele, porque aconteceu tudo muito rápido. Mas há razões para isto: trabalhei para ter essa sorte e as oportunida­des que se me depararam. Isto é, ainda, a prova de que, com esforço, foco e obstinação, podemos atingir os objetivos a que nos propomos. Nunca desisti ou fraquejei, mas longe de mim pensar que atingiria esta evidência tão depressa.

Pode dizer-se que a situação excedeu as suas melhores expectativ­as?

RS – Excedeu as melhores expectativ­as pelo que consegui oferecer às equipas de que fiz parte. Estava nos meus horizontes jogar na Champions e marcar golos na mais importante competição de clubes da Europa, mas não era suposto que acontecess­e agora. O ambiente que me rodeia também me favorece, a começar no apoio do treinador (Pedro Martins) e dos meus companheir­os, que me têm ajudado em tudo. E quando sentimos esse carinho, é mais fácil expressar o potencial que possuímos. Tudo isso contribui para este bom momento da carreira.

“NUNCA DESISTI OU FRAQUEJEI, MAS LONGE DE MIM PENSAR QUE ATINGIRIA ESTA EVIDÊNCIA TÃO DEPRESSA”

“CRISTIANO CONFIDENCI­OU-ME QUE NÃO ESPERAVA QUE EU DESSE A VOLTA POR CIMA TÃO DEPRESSA. E EU CONCORDEI COM ELE”

Como reagiu no momento de saber que estava convocado para a Seleção?

RS – Para já, um dia antes já não conseguia dormir. Tinha esperança, mas estava muito ansioso.

Já sabia que estava pré-convocado…

RS – Sim, é verdade, por isso tinha consciênci­a de que era possível vir. Não era fácil, depois de uma espera tão longa, estar a um pequeno passo de atingir aquele que era um grande objetivo de vida. Foi difícil de assimilar, porque foi uma sensação incrível estar entre os melhores de Portugal, entre futebolist­as que integram os quadros de grandes equipas mundiais. Sinto-me especial por partilhar com eles esse espaço.

Apesar da sua juventude, já tem um passado no futebol. Este momento é o mais feliz da carreira?

RS – Se não o mais feliz, certamente um dos mais felizes. Era um sonho que perseguia há algum tempo, que poderia ter chegado mais cedo ou não, é indiferent­e, e que era comum à minha família e a toda uma comunidade a que estou ligado desde a infância – as pessoas de bairro que me apoiam e sentem as minhas vitórias e as minhas derrotas. É uma conquista nossa: minha e de todos eles.

Esses nunca deixaram de o apoiar, nunca o deixaram só…

RS – Nunca. Sempre se apoiaram e continuam a fazê-lo. A família é o meu pilar. Esta vitória é de todos nós e eu sinto-me duplamente contente por esta oportunida­de.

Olhando para trás, acredita que a chegada à Seleção já podia ter acontecido antes? Afinal, chegou a ser titular do Sporting, por exemplo…

RS – Todos aqueles que trabalham bem, em bons clubes, e são de alguma forma reconhecid­os, acreditam que podem chegar ao topo. Se fosse mais cedo, seria bom; sendo agora, é melhor ainda. O meu espírito não muda: estou aqui para ajudar, dando o melhor de mim próprio.

A esta distância, acredita que o Villarreal foi a melhor opção para a sua carreira?

RS – Continuo a pensar que sim. A questão não foi o Villarreal mas nas opções que tomei na minha vida pessoal, e essas é que não me permitiram dar o seguimento à carreira que devia. Não me arrependo da decisão que tomei, porque o Villarreal é um grande clube, que podia dar-me a projeção de que precisava, mas não correu bem. Paciência. Bola para a frente e a vida continua.

Sentiu, nos estádios espanhóis, a hostilidad­e das pessoas relativame­nte ao que lhe tinha sucedido?

RS – Não é preciso ir tão longe. Em Espanha, quando saía à rua em Huesca ou em Saragoça, quando ia ao centro comercial, já tinha o rótulo de delinquent­e, e isso, mesmo irrelevant­e para mim, influía no meu estado de espírito. Ia para casa e não me saía da cabeça o que ouvia, o que, mesmo inconscien­temente, tinha influência no meu rendimento como profission­al. Foi essa tranquilid­ade que encontrei em Portugal, onde me senti, como sempre imaginei, em casa. Os comentário­s foram sempre amigáveis, que estava de volta e acreditava­m em mim. E foi isso que fez com que desse o melhor de mim em campo.

“É UMA SENSAÇÃO INCRÍVEL ESTAR ENTRE OS MELHORES DE PORTUGAL. SINTO-ME ESPECIAL POR PARTILHAR ESTE ESPAÇO”

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