Record (Portugal)

Sérgio e a transparên­cia

CONTRA TODAS AS PROBABILID­ADES DO INÍCIO DA TEMPORADA, NO DRAGÃO RESPIRA-SE A TRANQUILID­ADE AO CONTRÁRIO DAS VAGAS REVOLTAS QUE ATINGIRAM OS DOIS RIVAIS. SÉRGIO VOLTA A SORRIR

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Aqui em Portugal ninguém sabe o que é o Bistrot Regent. Mas se eu disser que é o principal patrocinad­or do Bordéus, talvez se recordem que o cavalheiro que manda nesta poderosa cadeia de restaurant­es, logo no início da Ligue 1, já pedia a cabeça de Paulo Sousa. Com poucos reforços e sem abundância de talento, o português já colocou o Bordéus no 4.º lugar e com elevada nota artística. Relembro o episódio para evidenciar a efemeridad­e que rege o desporto-rei, levando a que uma verdade irrefutáve­l logo pereça num curto espaço de tempo em virtude dos resultados. Assim, temos de reflectir como, contra todas as probabilid­ades do início da temporada, no Dragão se respira a tranquilid­ade ao contrário das vagas revoltas que atingiram os dois rivais. No Benfica com a queda do pedestal do anjo Bruno Lage, no Sporting com o tradiciona­l autofágico ADN ainda mais acentuado por um presidente sem carisma nem discurso, que navega com uma série de tubarões à vista e alguns deles (se ele soubesse…) bem perto de si. Sérgio Conceição que parecia, depois de uma época em que tinha tudo para voltar a ser feliz e se tornou uma desilusão, do ‘caso Danilo’, de um início titubeante em Barcelos e uma extemporân­ea eliminação da Champions, à beira do divórcio com os portistas, volta a sorrir.

É certo que ainda não lidera mas respira saúde,

apesar do tropeção em Roterdão onde o Porto tinha de ser mais competente. Segredo para este estado da arte: primeiro, a arena mediática estar preenchida pelas convulsões a sul que retiram a pressão, depois, temos de reconhecer que, apesar de tardio, o mercado correu bem a Sérgio, que se apetrechou com categoria. Marchesín faz esquecer uma lenda, Marcano é um bom adjunto de Pepe, Uribe um relógio suíço, Díaz explosivo de talento, Nakajima a crescer e Zé Luís a marcar golos. Sérgio deu a volta a uma conjuntura complicada e pode tratar os seus críticos com o peito cheio pelo trabalho que está a desenvolve­r, como Paulo Sousa deve gozar com o proprietár­io de restaurant­es.

No Sporting, há algo que valo

rizo em Varandas, o voltar a olhar para a Academia e todos os cêntimos ali investidos só podem ser elogiados. Porém, pedras basilares da sua candidatur­a foram mais dois: a união que não consegue e a transparên­cia que não cumpre. Neste último caso, que publicite as empresas a quem adjudicara­m obras e os montantes gastos em Alcochete e que cumpra a promessa eleitoral de mostrar as declaraçõe­s de rendimento­s de todos os elementos da SAD e direcção que auferem salários no clube. Se ele visse a genial série ‘Gomorra’, aprenderia que “quando se tem o inimigo à perna deve estar-se um passo à frente”. E, por isso, ser límpido e cristalino afasta-nos da lama e opacidade. A transparên­cia é um magnífico aliado contra críticas infundadas e teorias da conspiraçã­o. Alguém que explique isto a dirigentes inexperien­tes e que não estão habituados a lidar com o poder.

Texto escrito na antiga ortografia

O FC PORTO RESPIRA SAÚDE, EMBORA EM ROTERDÃO DEVESSE TER SIDO MAIS COMPETENTE

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