ACIDENTES BIZARROS E MUITA NEGLIGÊNCIA
Dinesh Regimi, jornalista de Katmandu que se infiltrou nas obras e descobriu muito do que se passa atualmente no Qatar, conta com tristeza aquilo a que assistiu: “Quando lá estive percebi o que realmente se passa. Muitos deles morrem em consequência de acidentes de trabalho, outros morrem durante o sono. O calor e as condições por que eles passam não permitem mais. De resto, as autoridade qataris não fazem autópsias a estes trabalhadores. Posso garantir 150 mortes por ano. Para mim foi muito complicado assistir aquilo que eles passam.” E o jornalista nepalês destaca uma das histórias mais dramáticas com que foi confrontado e que reportou de imediato. Foi ocaso de Renuka Chaudhary, mulher nepalesa que retratou de forma cruel o que sucedeu com o marido: “Um amigo dele telefonou a dizer que tinha caído. Só descobrimos que ele tinha morrido em consequência dessa queda depois de muitos telefonemas e investigação. Disseram que lamentavam a morte e que estavam a investigar. Mais tarde explicaram que uma outra empresa removeu parte do chão sem avisar ninguém e ele caiu num buraco. Como é possível isto acontecer?” A resposta à questão desta viúva é dada por outro trabalhador nepalês: “Como somos migrantes de vários países não existe forma de comunicar a não ser por gestos. Daí que muitos dos acidentes são absurdos e sucedem por causa dessa dificuldade. Buracos não assinalados, elevadores que deixam de ter cabine, etc.” Mas Renuka Chaudhary não se convence e lamenta a falta de apoio: “Fiquei sem o meu marido, a minha filha ficou sem pai e recebi o equivalente a dois ordenados. Acham que vou conseguir sobreviver? O caso foi reaberto e vão investigar tudo novamente, mas claro que isso vai demorar anos e vamos ficar na mesma.”
Do Qatar a Portugal
Relatos que acabam por ser repetitivos e que também podemos ouvir no nosso país. Yussuf tem 38 anos, nasceu no Paquistão, vive de forma ilegal no nosso país e com dificuldades redobradas, uma vez que foi obrigado a enviar o dinheiro que tinha ganhado nos últimos meses para a família, que se viu a mãos com despesas hospitalares originadas precisamente nas obras do Qatar.
“O meu cunhado estava a trabalhar numa empresa de limpeza no Qatar. Depois de 6 meses não tinha recebido dinheiro, começou a enervar-se, deixou de comer e ficou muito doente. Conseguiu regressar a casa, só com a roupa que tinha no corpo, e agora toda a família está a cuidar dele. O dinheiro que tinha poupado para tratar dos papéis foi para voltar a casa. Agora só me resta continuar a trabalhar e a poupar para os ajudar”, conta Yussuf com algum receio das nossas reais intenções. “Mas és da Polícia? Por vezes preferia ser apanhado, se tivesse a certeza que me mandavam para casa. Sofro muito...”, conclui.
JORNALISTA DINESH REGIMI INFILTROU-SE PARA REVELAR AO MUNDO A REAL DIMENSÃO DO QUE SE PASSA NAQUELE PAÍS