Record (Portugal)

CARLOS MARINHO

- RUBEN TAVARES

A CIÊNCIA EXATA E O DESPORTO-REI

Professor estuda o melhor dos seus dois mundos e percorre o país em palestras entusiasta­s

Quando as pessoas me perguntam quem é que eu sou, eu digo sempre: sou professor de Matemática. É assim que quero ser conhecido e tratado”. A frase é de Carlos Marinho, que abriu a porta do seu gabinete para receber Record. Lá dentro, campinhos de futebol em miniatura e uma bola, entre outros objetos de trabalho, de estudo, de fruição do prazer de juntar as suas duas paixões. E entre Matemática e o desporto-rei, a escolha é fácil... “Gosto mais de futebol do que de Matemática. Não me importo que choque alguns. Estou sempre a ver futebol, jogos, programas, tiro as minhas próprias conclusões e dedico muito tempo a estudar o fenómeno futebolíst­ico. Preferiria ter sido jogador ou treinador de futebol do que professor

“À MEDIÇÃO DO FORA-DE-JOGO FALTA UM CHIP NO COURO DA BOLA PARA SER PERFEITA”, DIZ, REFERINDO-SE AO ÚLTIMO PASSE

de Matemática. Sem dúvidas”, garante Carlos. Mais esclareced­or não poderia ter sido, ele que tem dado várias palestras ao longo dos anos sobre futebol. Os árbitros internacio­nais Artur Soares Dias e Rui Licínio acompanham-no nesses encontros desde 2009/10 e até já prefaciara­m uma obra recém-lançada - ‘O Mundo da Matemática’ -, da qual o professor universitá­rio foi coautor.

E a entrada do VAR em cena, sobretudo na questão dos foras-de-jogo, é uma dos temas recorrente­s. “Neste momento, em Portugal, já foi resolvido o problema da linha do fora-de-jogo, felizmente, ao serem colocadas duas linhas. O jogo de futebol é um jogo a três dimensões. Tem altura, largura e espessura e o que é que acontecia? Acontecia que a TV colocava no relvado uma linha para definir se um jogador, que é a três dimensões, estava em fora-de-jogo. Isso matematica­mente está errado”, expõe o docente, que coordena também o Clube de Matemática da Sociedade Portuguesa de Matemática. Contudo, aos olhos de um especialis­ta na referida área da ciência exata, a medição do fora-de-jogo ainda não é perfeita. “O grande problema é quando a bola parte. Aqui está a terceira Lei de Newton, a de ação-reação, por isso se fala nos ‘frames’. Quando o jogador do último passe bateu na bola, se alguém se enganar e retardar um ‘frame’, às vezes por um segundo ou dois, um jogador pode estar em fora-de-jogo. Não sei se quem colocou estas linhas se precaveu convenient­emente para este aspeto. O couro da bola deveria ter um chip para definir o momento exato do último passe, do impacto entre o pé e a bola. Uma coisa são foras-de-jogo de 64 cm.... mas e se forem de 10 cm, e de 5 cm? Ao fora-de-jogo para ser perfeito falta-lhe um chip no couro da bola para quando houver impacto na bola isso ser transmitid­o para o sistema”, defende ainda Carlos Marinho, que reconhece ter várias amizades com gente do futebol, como os treinadore­s Carlos Brito, Vítor Oliveira ou um sem-número de jornalista­s desportivo­s.

Pronto para ensinar árbitros

É por entender que a Matemática pode ajudar muito o futebol, e que o segundo não existe sem o primeiro, que o professor até já se disponibil­izou a Luciano Gonçalves para dar umas aulas aos árbitros portuguese­s. “Eu gostava imenso de dar uma ação de formação para árbitros. Já o disse ao Artur Soares Dias e ao Rui Licínio, até já mandei um email ao presidente da APAF a disponibil­izar-me para esse efeito, até para os miúdos. Não me importo de falar aos mais novos, às camadas jovens, mas acho que se deve começar pelos mais velhos”, conta ainda. Carlos Marinho partilha também entre risos o facto de num torneio académico ter sido campeão cinco vezes e melhor marcador nas cinco ocasiões. É o bichinho da bola e o dia-a-dia a trabalhar com números, geometria e fórmulas que o fazem ter uma agenda preenchida para palestrar de norte a sul do país.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal