Os novos Fariseus
Este artigo não tem nada a ver com política; tem a ver apenas e só, com valores e princípios. E com democracia.
O 25 de Abril trouxe-nos muitas coisas boas, mas também coisas más; uma delas, que ainda perdura na mente de muitas pessoas, é a propalada superioridade moral da esquerda, traduzida na condescendência agressiva com que se manifestam perante ideias diferentes das suas.
Vêm estas considerações a propósito do comunicado de um conjunto de notáveis benfiquistas, que acusam o ora deputado André Ventura de “usar o Benfica para criar uma persona política”, que pela sua xenofobia e contestação do sistema, constitui “a negação da identidade do Benfica”.
Há aqui algumas precisões a fazer. A primeira é a de que André Ventura foi eleito com o voto dos portugueses, os mesmos exatamente que elegeram os deputados dos outros partidos; dizer que votaram no André Ventura por ele ser um comentarista televisivo afeto ao Benfica é passar um atestado de menoridade mental aos seus votantes e uma barbaridade tão grande quanto dizer-se que as pessoas votaram, em Lisboa, no Livre, porque a sua candidata era gaga.
A segunda é a de que já estive em debates desportivos com o André Ventura e assisti a muitos na televisão; nunca o vi misturar política e desporto. Vi-o, sim, defender o credo oficial do seu clube contra toupeiras, missas, claques, meninos queridos e quejandos, vi-o desafiar benfiquistamente a evidência, mas numa pura ótica clubista.
Aliás, o Hélder Amaral também fez comentários e não foi eleito e o André Pinotes Batista, idem, e foi eleito deputado por Setúbal. Será que são casos diferentes, só por terem ideias diferentes?
Mas o que mais me assusta é que esta cegueira do politicamente correto tolda o discernimento de quem tinha mais do que a obrigação de realizar que os clubes são grandes, porque justamente são transversais à sociedade portuguesa, porque não olham a credos, cor de pele, convicções políticas ou nível social.
O Benfica foi fundado por órfãos da Casa Pia, mas já teve como presidentes um marquês e um banqueiro, e nessa amplitude é que reside a sua força.
André Ventura é de extrema-direita; e depois? Tem tanto direito a ser do Benfica e comentar na televisão como qualquer dos notáveis que o criticam. Tem também tanta legitimidade para ser deputado no Parlamento como os restantes deputados que lá estão. Querem combater o André Ventura? Façam-no, mas defrontando-o no debate político e não excluindo-o dele.