LOPES DÁ MÃO À GERINGONÇA
Bruno Lage voltou a surpreender no onze, mas foi traído pela lesão de Rafa. O Benfica deixou-se dominar e acabou por ser feliz já perto do fim
Quando os onzes titulares chegaram ao público, mais de uma hora antes do pontapé de saída, muitos benfiquistas devem ter levado as mãos à cabeça: Bruno Lage voltara a fazê-lo. Em jogo de Champions, com a equipa encostada à cordas fruto das duas derrotas nos dois primeiros jogos, o Benfica apresentou um onze titular com várias surpresas. Se Tomás Tavares como lateral-direito era mais ou menos expectável, o mesmo não se podia dizer do ataque, onde coabitavam Gedson, Cervi, Rafa e Seferovic.
Uma verdadeira geringonça – mas há geringonças que até funcionam. E aquela que Lage montou ontem funcionou bem, pelo menos enquanto se aguentou direita, com as peças todas no sítio. Com Gedson e Cervi pelas alas e Rafa no meio, a jogar entrelinhas, o Benfica foi uma equipa vertiginosa, sempre a criar perigo em transições rápidas, aproveitando também o espaço concedido por um Lyon que surgiu em 4x4x2. Rafa marcou logo aos 4’ e lançou o pânico na defensiva adversária em mais um par de ocasiões. Mas não durou muito e a lesão que o camisola 27 sofreu por volta dos 15 minutos acabou por furar completamente os planos do técnico.
Já com Pizzi em campo, sobre a direita, e Gedson no apoio a Seferovic (também inferiorizado), o Benfica deixou de ser capaz de chegar com o mesmo perigo à área contrária. A bem da verdade, também conseguia anular com relativa facilidade as pífias tentativas de ataque dos franceses. E o único momento de verdadeiro perigo para Vlachodimos surgiu aos 30’, quando Grimaldo cortou um remate de Cornet que tinha pinta de golo.
Lyon cresce e assusta
As mexidas de Rudi Garcia ao intervalo melhoraram o Lyon, que ficou dono do jogo com as entradas de Thiago Mendes e, sobretudo, Traoré, uma locomotiva pelo flanco direito, a criar imensos problemas a Grimaldo. O Benfica foi perdendo o controlo da partida, cada vez mais dura e quezilenta (sempre com a bonomia do árbitro eslovaco), e apanhou alguns sustos. Ainda para mais, nesta altura, os encarnados eram incapazes de segurar a bola no meio-campo e na frente, onde Gedson e Seferovic eram facilmente anulados.
O golo do Lyon, numa boa definição de Depay após cruzamento de Dubois, tocou várias campainhas antes de chegar. E
os minutos seguintes deram a sensação de uma água encostada às cordas, que poderia sofrer o KO a qualquer altura. Aí, foi Lage que mexeu bem no jogo, ao colocar Raul de Tomas junto a Carlos Vinícius. Mesmo sem marcar, ou sequer ter tido ações ‘visíveis’, o espanhol foi decisivo para esticar a equipa para a frente, pela forma como conseguiu segurar a bola em terrenos adiantados. Essa melhoria permitiu que Pizzi atirasse ao poste, num remate de longe, mas ninguém poderia prever o que aconteceria logo depois: Anthony Lopes decidiu dar a bola, com as mãos, ao médio do Benfica, que atirou de primeira para a baliza deserta. Um golo caído do céu, que valeu três pontos e pode ter valido uma nova vida aos encarnados na Champions.
Desta vez, e com muita sorte, o Benfica ganhou e Lage não será acusado de mil e uma tropelias por causa das suas opções. Aliás, é bem possível que se oiçam os ferozes críticos das mudanças frente a Leipzig e Zenit a baterem agora palminhas ao treinador e à qualidade do plantel – e tudo porque a equipa venceu. É certo que, em alta competição, são os resultados que comandam, mas não podem ser a ditadura.