Record (Portugal)

Gonçalo nunca perdeu a Paciência

- RUI MALHEIRO

A CARREIRA SOFREU MAIS DO QUE UM REVÉS, MAS GONÇALO NUNCA DESISTIU DE RUBRICAR UM TRAJETO EM QUE SE SALIENTE PELO NOME PRÓPRIO. O ANO CIVIL DE 2019, MESMO COM CONCORRÊNC­IA MUITO FORTE NA POSIÇÃO, ESTÁ A SER SOBERBO, COMO ATESTAM OS 12 GOLOS EM 1.512 MINUTOS. O REGRESSO À SELEÇÃO TORNA-SE OBRIGATÓRI­O

Os golos – no plural – correm-lhe nas veias. Filho de Domingos Paciência, flamejante avançado português da década de 1990, Gonçalo nunca se deixou apoquentar pelo peso do apelido, perseguind­o o mote de realizar uma carreira em que se saliente pelo nome próprio. O que tem sucedido. A ligação ao FC Porto foi longa. Iniciou-se em 2002, nas escolinhas dos dragões, prosseguin­do-a nos diferentes escalões, sempre com um apetite voraz pela baliza rival suportado por uma distinta qualidade técnica, o que lhe assentiu circunscre­ver um trajeto afirmativo nas Seleções Nacionais – 24 golos em 61 jogos entre os sub-16 e os Olímpicos – e o debute, em 2014/15, pela equipa principal portista, rubricando 1 golo – ante a Académica, para a Taça da Liga – em 4 partidas incompleta­s sob o comando de Lopetegui.

A necessidad­e de jogar com regularida­de guiou-o a um empréstimo à Académica. Tudo redundou num exercício instável (findado com descida à II Liga), numa equipa com um ideário incapaz de potenciar as caracterís­ticas de um avançado habituado a jogar para ganhar. Por isso, a cedência seguinte, ao Olympiacos, parecia ser a porta ideal para o cobiçado regresso ao Dragão. Só que sofreria, no final de setembro de 2016, um duro revés na carreira. Os fantasmas de um problema cardíaco, que já o tinham afastado do Mundial sub-20 em 2013, reemergira­m, e teve de fazer uma pausa na carreira. Reaparecer­ia, em janeiro de 2017, no Rio Ave, sob o comando de Luís Castro, mas o intervalo competitiv­o, que o condiciono­u fisicament­e, e problemas de confiança, bem visíveis no momento de definição dos lances, não consentira­m que se afirmasse como titular.

Em Setúbal, com José Couceiro, chegava o momento do tudo ou nada. A resposta não podia ter sido mais pungente. 11 golos e 6 assistênci­as em 25 jogos tornaram-no protagonis­ta da primeira metade do exercício, conduzindo-o à estreia pela Seleção A num particular ante os E.U.A., e ao regresso, no final de janeiro de 2018, ao FC Porto, após ter sido decisivo para a chegada do Vitória à final da Taça da Liga. Só que a concorrênc­ia de Marega, Soares e Aboubakar, aos quais ainda se juntou Waris, retirou-lhe espaço de afirmação no clube e na Seleção. Apesar de ter sido várias vezes lançado a partir do banco, contribuin­do para a conquista do título nacional, os poucos minutos de utilização não tiveram tradução em golos, mesmo que fosse óbvio que oferecia predicados díspares dos outros avançados dos dragões, o que o poderia tornar um elemento de enorme utilidade. Por isso, causou estranheza que, em julho de 2018, fosse confirmada a sua transferên­cia, a troco de apenas 3 milhões de euros, para o Eintracht Frankfurt.

A segunda aventura fora de portas encetou com um tento na Taça ante o Ulm. Só que se seguiu mais um revés na carreira. Uma rotura do menisco afastou-o 5 meses, enquanto via crescer uma dupla de ataque (Jovic-Haller) contundent­emente profícua. Algo que não o amedrontou. Como se comprovou, quando, a meio de fevereiro, regressou à competição, totalizand­o 4 golos em 455 minutos de utilização. Opção mais regular neste exercício, fruto das saídas de Jovic (Real Madrid) e de Haller (West Ham), Gonçalo, com a concorrênc­ia de Bas Dost e de André Silva, totaliza 8 golos e 3 assistênci­as em 17 jogos oficiais, justifican­do o regresso à Seleção A. Para se fixar.

Avançado-centro que não gosta de confinar o raio de ação à área, até porque é extremamen­te sagaz a baixar às entrelinha­s e a buscar movimentaç­ões à largura, Gonçalo Paciência, apesar de estar cada vez mais robusto fisicament­e, continua a sobressair por conseguir conciliar um perfil técnico e associativ­o a argumentos fortíssimo­s como finalizado­r. Por isso, gosta de ter bola e mostra-se capaz de protagoniz­ar movimentos curtos estonteant­es, em que alia virtuosism­o e qualidade no drible curto a uma surpreende­nte agilidade, adindo perspicáci­a a oferecer apoios frontais, de forma a fomentar tabelas ou para proporcion­ar assistênci­as para situações de finalizaçã­o. Depois, é móvel – sai bem do corredor esquerdo para o central –, agressivo a atacar os espaços vazios e a protagoniz­ar ações de desmarcaçã­o em direção a zonas de definição, muitas vezes no limite do fora-de-jogo, conjugando oportunism­o e instinto finalizado­r com atributos no remate – principalm­ente com o pé direito – e no jogo aéreo.

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