Heróis da classe operária
A queda de sete clubes da divisão maior ofereceu colorido à 3.ª eliminatória da Taça de Portugal. É certo que a façanha do FC Alverca, emblema do Campeonato de Portugal (CdP) capaz de derrubar com justiça o Sporting, justificou os maiores encómios, juntando à tremenda força do coletivo, bem orientado por Vasco Matos, a qualidade individual de alguns jogadores que merecem patamares mais elevados. É o caso de Alex Apolinário, médio-ofensivo canhoto extremamente sagaz no ataque às entrelinhas e com um remate forte e espontâneo, que já passara por estas páginas de Record em 2014 e 2015, quando fulgiu na Copinha sub-20 ao serviço de Botafogo paulista e Cruzeiro. Mas os feitos de Beira-Mar, que eliminou o Marítimo, e do imberbe Sintra Football, que derrubou o Vitória de Guimarães, ambos na sequência de desempates desde os onze metros, também justificam enormes elogios pela diferença de dois escalões entre os contendores. Algo que não retira brilho aos êxitos de Académica, Chaves, Farense e Feirense, emblemas da II Liga que superaram oponentes primodivisionários, nem tão-pouco a Espinho e a Vizela, clubes do CdP que tombaram rivais do segundo escalão. Contudo, há importantes conclusões que se devem retirar de uma eliminatória tão rica. Além da perceção de que se trabalha cada vez melhor nas divisões inferiores, o que contribui para o crescimento de muitos jogadores longe dos palcos mais mediáticos, é notório que a fronteira entre os clubes que ocupam a segunda metade da I Liga e os que ocupam a primeira metade da II Liga é cada vez mais ténue, o mesmo se passando entre a metade baixa da II Liga e a dianteira das diferentes séries do CdP. Um aspeto que torna premente repensar o quadro competitivo, com a inclusão de uma nova divisão, provavelmente dividida em duas séries, que faça uma ponte entre o CdP e a II Liga. Até porque que a ligação entre escalões deverá premiar a regularidade, o que não acontece entre as terceira e a segunda divisões, mesmo que uma vaga adicional possa surgir de um sempre emotivo playoff.