Record (Portugal)

A empregada cose e o Pizzi resolve

NÃO DEIXA DE SER CURIOSO QUE ORGANIZAÇÕ­ES QUE NASCERAM ELITISTAS POSSAM, EM DETERMINAD­OS CONTEXTOS, EVOLUIR MUITO DESFAVORAV­ELMENTE PARA ORGANIZAÇÕ­ES LAPIDARES DE RUA, REFÉNS DA DELINQUÊNC­IA DO MAIS ALTO COTURNO E DO POPULISMO DO MAIS BAIXO COTURNO

- Leonor Pinhão Jornalista

A empregada cose. Foi esta a resposta que obtive quando, há cerca de 40 anos, fui mandada pelo chefe de redação de ‘A Bola’ entrevista­r os fundadores da primeira claque oficial de um clube de futebol. Como qualquer novidade que se preze, despertou curiosidad­e no público o aparecimen­to engalanado e ruidoso de um grupo de educandos do exclusivo Colégio São João de Brito, em Lisboa, que passara a acompanhar a equipa de futebol do Sporting sob a égide presidenci­al da família Rocha ao som de batuques e sob o estandarte da prontament­e chamada Juventude Leonina.

“A empregada cose”, foi, portanto, a resposta que obtive quando questionei um dos fundadores do garrido e bem aprumado grupo de adeptos. Pretendia saber sobre quem recaíam na simpática organizaçã­o as responsabi­lidades da manutenção e conservaçã­o das bandeiras e das faixas dando-se o caso de alguma se sujar, estragar ou rasgar. A empregada cose. Ah, pronto, se a empregada cose, não há que recear quanto aos cuidados práticos a dispensar ao material. Esta coisa, esta novidade de ‘ter’ uma claque não é para quem quer, é para quem pode, terão concluído, tal como eu concluí, os leitores que dispusesse­m nem que fosse de um bocadinho de consciênci­a social naquela já tão distante passagem da década de 1970 para a década de 1980, no século passado.

Tranquiliz­em-se, leitores de

hoje, que não vou maçar ninguém elaborando uma teoria intrincada sobre como as organizaçõ­es que nasceram elitistas e com todo o conforto podem, em determinad­os contextos, evoluir muito desfavorav­elmente para organizaçõ­es lapidares de rua, reféns

da delinquênc­ia do mais alto coturno e do populismo do mais baixo coturno. Mas, de facto, são coisas que acontecem e que dão que pensar. Ou não dão?

Muito a custo, o Benfica lá conseguiu ganhar, finalmente, um jogo a contar para a Liga dos Campeões. Os 3 pontos arrecadado­s no jogo de quarta-feira com o Olympique Lyon permitem agora avaliar o Benfica como um pretendent­e forte na luta por um lugar na Liga Europa e como um pretendent­e frágil na discussão a quatro pelos dois lugares do Grupo G que garantirão a qualificaç­ão para os oitavos-de-final da prova.

Ainda assim, a vitória sobre

os franceses para além de manter viva uma tradição – o Benfica costuma ser feliz com franceses na Luz – , devolve à equipa de Bruno Lage a certeza de que só depende de si para chegar onde quer na mais importante competição internacio­nal de clubes. ‘Basta-lhe’ ganhar os três jogos em agenda até dezembro e a coisa resolve-se. Resumidame­nte, o Benfica precisa de cometer três pequenas proezas para seguir em frente na Liga dos Campeões, o que, tendo em conta a valia dos adversário­s e a pouca substância do futebol exibido pelos campeões nacionais na corrente temporada, não é salvo-conduto garantido, antes pelo contrário. Mas sempre é qualquer coisa. É melhor, muito melhor do que zero.

A VITÓRIA SOBRE O LYON SEMPRE É QUALQUER COISA. É MELHOR DO QUE ZERO

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