Record (Portugal)

Manta grossa e remendos

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discussão é antiga e por vezes aquece. Quem são os ‘místeres’ que interessam às equipas mais remediadas? Se os ‘do processo’, que valorizam “a proposta de jogo”, e, por consequênc­ia, os seus jogadores nas suas componente­s técnico-táticas, se os ‘resultadis­tas’, que “estacionam o autocarro” enquanto ganham e pedem pinheiros para pôr a “carne toda no assador”, quando têm de ir atrás do prejuízo.

A escolha de Nuno Manta pelo Marítimo nunca levantou dúvidas. Carlos Pereira desistiu do ilusório estatuto de crónico candidato ao top 5 e assumiu que, mais do que jogar para ganhar, o Marítimo tem de ganhar para continuar a jogar ao mais alto nível.

As equipas de Nuno Manta sabem defender, e então contra os grandes ocupam de tal forma os espaços, que o stress do desempenho rapidament­e passa para quem, por muito que puxe e empurre, não consegue destapar buraco por onde penetrar. Linhas sempre muitos juntas [2], zona frontal aos centrais bem protegida [3], ou até pela força dos números [1], abdicando em absoluto da transição atacante.

Mas para um jogo pobre em qualidade e em oportunida­des são necessária­s duas equipas... e por vezes uma terceira... Num relvado demasiado regado, e com tendência a levantar, a noite não estava para os artistas, e com a história do jogo a colaborar, tudo se encaixou para um jogo de sentido único.

Mas aqui surgem outras questões que apenas podem ser respondida­s por Sérgio Conceição. Enquanto ainda havia relvado, o FC Porto não deveria ter tentado construir jogo de forma mais elaborada, ser mais móvel e penetrante? Mas como poderia tê-lo feito com um central a defesa-direito, um destro a defesa-esquerdo e dois médios a conterem uma iniciativa atacante da equipa adversária pela zona central próxima do zero? Faz sentido abdicar de uma dupla de avançados fisicament­e imponente (Marega e Zé Luis) para apostar num único ponta-de-lança mais leve com um apoio na posição 10, quando a equipa bombeia sistematic­amente para os flancos na busca da profundida­de por parte de Corona e Luis Díaz? O plano de jogo foi alterado e com um terço da partida ainda por jogar. Mas mesmo empatando o jogo com o recurso à lei do mais forte, o FC Porto voltou a deixar nos Barreiros aquela impressão que lhe falta algo mais do que apenas “prazer em jogar” ou “vontade de vencer”.

ENQUANTO HOUVE RELVADO, SÉRGIO CONCEIÇÃO NÃO DEVIA TER TENTADO UM JOGO MAIS ELABORADO?

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