O projeto é não haver projeto
terceira paragem do campeonato, que se delongará por (mais) três semanas, promoveu três alterações no comando técnico de equipas da 1.ª Liga, alargando para seis o número de chicotadas psicológicas em 2019/20. Um número pornográfico, já que representa que um terço das equipas mudaram de treinador no primeiro terço de competição, o que reforça o logro da palavra projeto na maior parte dos clubes lusos. Se as mudanças no Vitória de Setúbal e no Aves eram expectáveis, tendo em conta o facto de as equipas terem ficado entregues aos interinos Meyong e Leandro Pires, a demora na apresentação dos sucessores diz mais sobre a inexistência de um plano A, B ou C quando se toma a decisão de dispensar um técnico, do que de um pensamento profundo sobre quem é o sucessor. Dificilmente haverá melhor exemplo do que o dos sadinos. Após a aposta em Sandro, um treinador que assenta o seu ideário em premissas claramente defensivas, e que terá construído o plantel a pensar numa equipa que se sentisse confortável a defender num bloco médio-baixo e que apostasse as suas fichas ofensivas na exploração de contragolpes, a direção do Vitória escolheu para seu sucessor o espanhol Julio Velázquez, protagonista de um trajeto tergiversante – consegue, ainda assim, surgir permanentemente como alvo de clubes portugueses – e que perfilha um ideário diametralmente oposto ao do seu antecessor, investindo, de forma clara, num futebol de posse – com uma arrojadíssima construção desde trás – e de perfil marcadamente ofensivo, mas com gritantes soluços no processo defensivo. Neste jogo de extremos também se pode enquadrar a saída de Nuno Manta do Marítimo, uma das maiores deceções em termos de qualidade de jogo do exercício, onde será substituído por José Gomes, (outro) treinador com ideias dissemelhantes do antecessor. Mas o pós-modernismo do futebol português também fica bem patente na escolha do novo treinador do Aves: não só porque a escolha recaiu sobre Nuno Manta, que ficou menos de 24 horas sem clube, como também porque o despedimento de Inácio ocorreu a 21 de outubro, o que significa que durante três semanas os avenses andaram a atirar bolas bem por cima da barra.