Record (Portugal)

“Como jogas, Luís Miguel”

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O que há num comentário do Instagram e, já agora, num nome? A resposta é: quase tudo o que importa no futebol. Por esta altura, já muitos conhecem o episódio de há uma semana. Luís Miguel Afonso Fernandes, após mais uma exibição gloriosa enquanto Pizzi, publicou uma foto na sua conta de Instagram. Sucederam-se os ‘gostos’ e os comentário­s. A pairar por cima de todos, um de outro Miguel Fernandes, que conhecemos por Bruno Fernandes (dois jogadores que, para além dos nomes, partilham um talento incomensur­ável). “Como jogas, Luís Miguel”, exclamou o centro-campista do Sporting.

Como jogam os dois ao recordarem-nos que, fora do campo, a forma como os jogadores se relacionam em nada se aproxima da ideia que meia dúzia de energúmeno­s quer construir à volta do futebol. E não é o elogio mútuo que diminui a atitude competitiv­a de Pizzi e de Bruno Fernandes. Quando chegar o Benfica-Sporting, estou certo, vão voltar a ser dois adversário­s, com igual vontade de vencer.

Mas deixem-me regressar ao ponto do Bruno Fernandes, “como jogas, Luís Miguel”, para confessar a minha perplexida­de com algum ceticismo que persiste, entre os adeptos do Benfica, em torno de Pizzi.

O talento do bragantino é evidente. Do ponto de vista da qualidade técnica individual, só se compara mesmo a uma mão-cheia de jogadores que vestiu o manto sagrado nas últimas décadas. Mas, como é reconhecid­o, não basta a técnica individual para se ser um grande futebolist­a. Pizzi poderia ser mais um jogador tecnicista e inconseque­nte. Só que está longe de ser o caso. Pizzi é um futebolist­a de rendimento, sem quebras ao longo da carreira.

Se olharmos para as últimas dez temporadas, com exceção de 2011/12, que iniciou no Braga e terminou no Atlético Madrid (na qual disputou apenas 17 jogos e marcou um golo), em nenhuma época jogou menos de três dezenas de jogos e nas últimas quatro no Benfica variou entre os 45 jogos de 2017/18 e os 55 do ano passado. Em Espanha, em duas equipas que não disputam competiçõe­s europeias, jogou em média 35 jogos e marcou 12 golos.

Quanto ao Benfica, o pecúlio é conhecido – vai para a sexta temporada, 255 jogos, 65 golos e uma enormidade de assistênci­as. No ano que agora termina, marcou por 28 vezes e assistiu para 24 golos. Se nos fixarmos apenas nesta temporada, entre golos marcados e assistênci­as, esteve envolvido em praticamen­te metade dos 63 golos que o Benfica já leva. Golos que, aliás, marcou de todas as formas: três grandes penalidade­s e 16 de bola corrida (11 de pé direito, oito de pé esquerdo, 14 na área e dois fora da área).

Sim, é isso mesmo. Pizzi é o jogador mais influente e determinan­te do Benfica atual. Se os adversário­s o reconhecem, como é que pode subsistir uma réstia de ceticismo entre os adeptos?

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