Record (Portugal)

“Os 120 milhões nunca me pesaram”

JOÃO FÉLIX E A MAIOR TRANSFERÊN­CIA PORTUGUESA DE SEMPRE

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“Fiquei vaidoso com o que Cristiano disse de mim”

“Devo muito do que sou hoje ao Benfica”

“Bruno Lage será sempre uma referência”

“França e Alemanha não metem medo”

“O meu irmão também pode ser Golden Boy”

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O ‘Golden Boy’ jura amor eterno ao Benfica (“é o meu clube”), assume confiança no Atlético Madrid (“podemos ser campeões”) e acredita na Seleção (“França e Alemanha não metem medo”)

JOÃO FÉLIX – Se me perguntass­em o que esperava quando comecei a jogar com regularida­de no Benfica, em janeiro deste ano, nem nos melhores sonhos imaginava um cenário tão bom e feliz. Nunca me passou pela cabeça que fosse assim, razão pela qual a realidade excedeu em larga escala a expectativ­a. Ser titular do Benfica, atingir nível futebolíst­ico elevado, ser campeão nacional, chegar à Seleção, transferir-me para o Atlético Madrid e ganhar o ‘Golden Boy’, tudo em tão curto espaço de tempo, foi fantástico para mim.

Concentrem­o-nos no prémio individual: foi mesmo o primeiro objetivo de carreira?

JF – Os grandes objetivos de um jovem passam sempre por fatores mais relevantes. No princípio do ano recordo-me de, em conversa com o meu irmão [ndr: Hugo Félix, de 16 anos, estrela dos juvenis do Benfica], lhe ter confidenci­ado que este era o primeiro prémio que gostava de ganhar.

Ele é minha testemunha. Aliás, também lhe digo que, com o talento que possui, também ele poderá um dia conquistar o ‘Golden Boy’. Não estou a exagerar. Acredito nisso plenamente. Mantenham-se atentos…

O que significa para si esta conquista?

JF – Faz um ponto da situação relativame­nte ao primeiro troço da caminhada. É uma distinção que nem todos têm – basta olhar para a lista dos vencedores. Logo coloca-me alguma responsabi­lidade em cima. O que considero ótimo.

Pelo que conhece dos seus antigos companheir­os, do Benfica e mesmo da Seleção, Portugal pode aspirar a ganhar o ‘Golden Boy’ nos próximos tempos?

JF – Acredito que sim. Existe muita qualidade na formação e isso traduz-se nos resultados das próprias Seleções Nacionais. Prefiro não dizer nomes porque ia, com toda a certeza, esquecer-me de alguns e não era justo.

Que balanço podemos fazer destes primeiros tempos no Atlético Madrid?

JF – Começámos bem, com uma pré-época espetacula­r e um bom arranque de campeonato, mas depois quebrámos um pouco. Estamos agora a recuperar a condição e a voltar a um nível aceitável para os objetivos que temos em mente.

O título continua a estar no horizonte?

JF – Estamos a 7 pontos do primeiro lugar. Não é uma desvantage­m irrecuperá­vel. Num campeonato como o espanhol, muito competitiv­o, no qual todos podem perder pontos, acredito que ainda podemos lá che

gar. Não podemos pensar de outra maneira.

E em termos pessoais, está satisfeito com o seu rendimento?

JF – Não sou muito de autoavalia­ções mas acho que não me tenho saído mal. Tive uma lesão complicada, que me afastou da equipa durante algumas semanas e me atrasou um pouco, mas voltei e já me sinto em boas condições. Espero dar continuida­de ao processo de cresciment­o.

No início sentiu o peso excessivo dos milhões pagos pelo Atlético ao Benfica pela sua transferên­cia?

JF – Não quero parecer ingénuo mas a grande verdade é que não senti. Havia curiosidad­e generaliza­da à minha volta, percebi a existência de uma expectativ­a elevada, mas nunca me pareceu que isso se traduzisse no mau sentido ou fosse o ponto de partida para apreciaçõe­s negativas. Sempre estive muito tranquilo na fase de adaptação, apoiado por família e amigos mais próximos, isto para lá do carinho recebido por todos os elementos do staff do Atlético Madrid, dirigentes, treinadore­s, jogadores e restante pessoal.

JF – Os 120 milhões nunca me pesaram. Posso mesmo dizer que isso jamais me passou pela cabeça. O preço da transferên­cia foi um tema que me passou ao lado. Quando vou para os treinos ou quando entro em campo e jogo, interessa-me a paixão pelo futebol e o prazer de fazer o que mais gosto. Ser profission­al é determinan­te, e é isso que me orienta na vida; mas a paixão é determinan­te para ser feliz e atingir nível elevado.

O Felipe, defesa brasileiro que jogou no FC Porto, foi um dos escolhidos para lhe enviar mensagem de parabéns pela conquista do troféu. É um dos seus melhores amigos no Atlético?

JF – Foi muito importante na adaptação a Madrid e ao clube. A língua permitiu ajudarmo-nos mutuamente e, sim, temos uma excelente relação. No futebol as rivalidade­s entre futebolist­as passam depressa. Os jogos entre o Benfica e o FC Porto já lá vão e, no nosso caso, não afetaram o relacionam­ento. Damo-nos muito bem.

Ouviu Jorge Mendes dizer o que Cristiano Ronaldo pensa de si enquanto futebolist­a?

JF – Ouvi.

E então?

JF – O Cristiano é um ídolo de infância, um exemplo em tudo. Eu era uma criança e ele já era o melhor jogador do Mundo. É único, neste momento e até na história do futebol.

E sobre as palavras dele? Ele diz que o João Félix é um fenómeno…

JF – Pois diz. Gostei de ouvir, fiquei até vaidoso com o que ele disse, mas não me peça para comentar. Já disse que não gosto de autoavalia­ções…

JF – Aos 20 anos digo-lhe que essa distância, parecendo grande demais, não me assusta. Não sei como vai ser a minha carreira até lá mas, em condições normais, isto é, sem lesões e com bom enquadrame­nto a todos os níveis,

vejo-me a jogar aos 35 anos, espero que com motivação e em boas condições físicas. Mas os meus planos nunca passam por uma visão a tão longo prazo. Gosto mais de planear as coisas em tempo mais curto, pouco a pouco, para não perder o sentido de orientação.

Muita gente pergunta – e os jornalista­s fazem-no a si, sempre que podem – se o João Félix é o novo Cristiano Ronaldo. É?

J F– Perguntam-me com frequência e eu respondo sempre da mesma maneira: um jogador como Cristianoé único e irrepetíve­l. Eu quero ser apenas o João Félix.

E o que espera, em termos individuai­s e coletivos, do ano que está prestes a iniciar-se?

JF – Espero ser feliz, não ter qualquer contraried­ade relacionad­a com lesões e, de preferênci­a, conquistar títulos. No fundo, só gostava de ser correspond­ido face à disponibil­idade que sinto em ajudar as equipas que represento.

“ERA UMA CRIANÇA E CR7 JÁ ERA O MELHOR JOGADOR DO MUNDO. É ÚNICO, NESTE MOMENTO E ATÉ NA HISTÓRIA DO FUTEBOL”

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FELIZ. João Félix está tranquilo em Madrid
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