O melhor jogador do Championship
MP ESTÁ A USUFRUIR
DA PACIÊNCIA QUE PERCORRE TODA A CADEIA DE COMANDO DO WBA
MATHEUS PEREIRA TEM AGORA DE AGREGAR CONTINUIDADE AO TALENTO, O QUE NÃO PARECE DIFÍCIL DE CONSEGUIR COM O AMPARO INDISPENSÁVEL DE ORGANIZAÇÃO, COMPETÊNCIA E SUCESSO QUE O WBA TEM PARA LHE DAR
Joaquim
Meirim zangava-se quando ouvia alguém denegrir qualquer jogador sob o argumento de que “não tem cabeça”. O velho mestre era mesmo contundente quando o assunto chegava às tertúlias em que participava e nas quais assumia um papel didático. “Eu treino homens inteiros e não apenas do pescoço para baixo”, dizia com revolta mascarada pela habitual serenidade do discurso. O tema ainda se discute com paixão, sendo hoje ainda mais claro o avanço de Meirim em termos conceptuais. Matheus Pereira configura o caso de alguém reconhecidamente talentoso, cuja carreira tem conhecido altos e baixos, montanha-russa normalmente explicada pelas de
bilidades psicológicas do jogador.
A partir de certa altura,
MP tem hoje confiança reforçada pelo comando,
que lhe concede rédea solta para soltar o instinto; conquistou liberdade para criar e ser feliz, de modo a moderar os efeitos nefastos dos valores repressivos da tática, do esforço e demais obrigações. Redescobriu assim enquadramento afetivo e o necessário compromisso com local, adeptos e valores que o rodeiam. À semelhança do que sucedeu em Chaves, com Luís Castro, está a usufruir da paciência que percorre toda a cadeia de comando do WBA, na certeza generalizada de que a cultura de ansiedade provoca o descontrolo e diminui, por vezes para sempre, quem deve expressar-se na plenitude dos argumentos técnicos e emocionais.
Sob a liderança de Slaven Bilic,
MP começou por ser visto como um extremo habilidoso, íntimo da bola, que encantava plateias e acrescentava soluções milagrosas com intervenções avulsas. Mas da visão de um e da qualidade do outro resultou um futebolista mais completo. O croata deu um passo em frente na conceção como desequilibrador e concedeu-lhe funções na zona central, nas quais acrescenta às armas já conhecidas sentido estratégico mais amplo e participação que lhe permite elevar a produção coletiva. Tornou-se o melhor jogador do Championship, máxima referência de uma equipa que tem reunidas as condições para regressar ao convívio dos gigantes do futebol inglês.
No seu futebol imprevisível,
a inteligência revela-se à velocidade da luz; por ser ambidestro, nunca é apanhado em situações para as quais não tenha soluções; por ter confiança insolente nele próprio, convicção à qual aderiram treinador, companheiros, adversários e adeptos, melhora cada bola que lhe chega aos pés. O que fez até ao momento em Inglaterra e os valores financeiros que já ativou (10 milhões a pagar ao Sporting, 25 milhões que outros parecem dispostos a dar por ele ao WBA) não são garantia de que confirme o destino grandioso para o qual nasceu. Até porque há nele sinais de uma fragilidade preocupante que deve ser considerada, apesar do momento que atravessa. Tem de agregar continuidade ao talento, o que não parece difícil de conseguir com o amparo indispensável de organização, competência e sucesso que o WBA tem para lhe dar.