Record (Portugal)

Receitas em tempo de vírus

- Nuno Encarnação Gestor

Já na semana passada o disse e reafirmo que os clubes têm de dar uma resposta urgente para reduzir ao máximo o impacto financeiro que esta pandemia vai ter no futebol português. E, no nosso país, as respostas começam a tardar, na esperança que algum milagre aconteça ou que alguém assuma os custos de toda esta crise pelos clubes em Portugal.

Deixo assim alguns contributo­s para reflexão de todos. As massas salariais mais elevadas dos clubes devem ser reduzidas de imediato, em acordo entre as partes. Se houver um corte salarial de 50% (neste período de paragem), num administra­dor de uma SAD que ganhe 300 m€ ano, num jogador ou treinador que ganhem 1 M€ por ano, estes indivíduos não conseguirã­o viver uns meses assim?

Estas reduções poupariam eventuais cortes noutros jogadores que nem 5 mil euros ganham nos grandes clubes, ou nos jovens das equipas que serão o garante desses emblemas num futuro próximo. O gesto solidário dos mais bem pagos deve proteger os mais jovens e os que auferem salários mais baixos nos seus clubes para evitar despedimen­tos em massa.

O verdadeiro amor ao clube dos atletas que tomarem esta iniciativa reduzirá a probabilid­ade de o seu clube de coração desaparece­r do mapa. Na Alemanha, os jogadores já se depararam com iniciativa­s desta natureza e o Barcelona também encetou contactos com o plantel para propor reduções. A realidade dos clubes é outra. O desapareci­mento do vírus não se fará por decreto.

Mesmo que as competiçõe­s desportiva­s retomem (algo que não acredito que seja possível no decorrer desta temporada), não iremos ter segurament­e os estádios cheios. As distâncias entre pessoas deverão ser mantidas, en

O GESTO SOLIDÁRIO DOS MAIS BEM PAGOS DEVE SERVIR PARA PROTEGER OS JOVENS

quanto não se provar que o vírus morreu.

A perda do poder de compra será uma realidade, uma vez que o rendimento de cada um será afetado com esta pandemia. Os preços dos bilhetes deverão baixar, de modo a acompanhar esta tendência. E aqui voltamos ao mesmo, a quebra de receitas de bilheteira e de merchandis­ing continuará a fazer-se sentir. As receitas televisiva­s poderão ter um sentido inverso e aumentar, uma vez que o consumo destes produtos desportivo­s se fará cada vez mais a partir de casa, enquanto houver memória de tal vírus.

O sacrifício de alguns poderá salvar as vidas de muitos. Vamos ter esperança.

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