Os deuses voltam em breve
AS SOMAS MILIONÁRIAS QUE CIRCULAM EM REDOR DO FUTEBOL TERÃO DE SER REDUZIDAS
VOLTAREMOS A VER AQUELE ‘MURO AMARELO’ DE DORTMUND TODO UNIDO? VOLTAREMOS A TER HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS ABRAÇADOS A CANTAR O ‘YOU’LL NEVER WALK ALONE’?
Só por três vezes, e por motivos das Grandes Guerras, os Jogos Olímpicos não se realizaram e nunca o evento aconteceu um ano depois da data aprazada. Só restava a Thomas Bach ser atingido por um dos dons mais importantes da nossa vida, o bom senso, para adiar o que todos os atletas pediam e só ele recusava. O investimento de Tóquio era gigantesco, as perdas serão enormes, mas é a saúde a base da prática desportiva. Logo, era atentatório do momento que vivemos a inflexibilidade e teimosia do presidente do Comité Olímpico Internacional. Será um Verão de preocupação generalizada e sem o escape das maiores competições seguidas por milhares de milhões de espectadores.
Mas importa perguntar como
vai mudar o futebol? Voltaremos a ver a Bundesliga com aquele ‘muro amarelo’ de Dortmund todo unido? Voltaremos a ter homens, mulheres e crianças abraçados a cantar o ‘You’ll Never Walk Alone’? Se alguém acha que tudo vai voltar ao mesmo é porque está a viver numa ‘twilight zone’ qualquer. Tudo terá de ser redi- mensionado porque a partir de agora poderemos ter uma qualquer pandemia ao virar da esquina, insidiosa e com apetite pelos nossos entes queridos e temos de os defender.
A indústria terá de ser repen-
sada, o quadro competitivo menos extenso, os valores astronómicos de salários serão revistos e as somas milionárias e fáceis que circulam à sua vol- ta serão reduzidas. É uma nova realidade onde, como escrevia Balzac, “quando todos são corcundas, o belo porte torna-se a monstruosidade”. Só há algo que não vai mudar: a paixão dos adeptos pelos seus emblemas e o prazer em ter os astros em acção. E o que todos desejamos é que os deuses voltem em breve.
PS1: Miguel Cal era uma das peças essenciais da equipa de Varandas. Assim o ‘venderam’ aos sportinguistas, como um mago que não é nem nunca foi. No momento em que o seu chefe se apresenta por ordens militares ao serviço público – algo que merece louvor social – sai por motivos pessoais e profissionais. É uma triste saída de um elemento que consubstanciava a evidente imaturidade e impreparação de uma SAD para gerir os assuntos do futebol. Não deixa saudades nem legado, foi um verbo-de-encher. E o momento da sua saída, diga-se, é uma vergonha e irresponsabilidade.
PS2: Os portugueses estão a bater recordes de audiência de televisão, os sites de jornais aumentam o número de utilizadores e o que acontece? Empresas cancelam campanhas de publicidade com a justificação de que como se está em casa não vale a pena investir pois não se compram produtos. Isto é de uma tacanhez e falta de visão inaudita. Recordo a estes decisores que a responsabilidade social é uma forma de se reforçarem as marcas e permanecerem no ‘top-of-mind’ dos consumidores. É tempo de não se desinvestir nos média, pelo contrário, precisamos deles saudáveis para serem nossas muletas para ultrapassar estes dias complicados.